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sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Diálogo Inter-religioso na Ciência da Religião Aplicada


 [PUC-MG] 

Nesse vídeo, o professor Doutor Frank Usarski, do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da PUC-SP, fala sobre as possibilidades de entendimento entre as religiões e como o Cientista  da Religião pode colaborar.



Fonte: 

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

4º Seminário de Ciência da Religião Aplicada (SEMCREA)



31/mar/2020 

O Seminário de Ciência da Religião Aplicada (SEMCREA) é um evento discente, anual e gratuito do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciência da Religião da PUC-SP, que ocorre no início do primeiro semestre de cada ano. O SEMCREA tem como objetivo semear contribuições e aplicações profissionais para além da Academia às pessoas formadas em ciência da religião.

Desde a primeira edição, os textos das apresentações que compõem o SEMCREA são de acesso livre e estão disponíveis para leitura no website do evento, em benefício de quem tiver interesse. Além disso, as apresentações são gravadas na íntegra pela TV PUC-SP e disponibilizadas gratuitamente na Internet.

As discussões do SEMCREA ocorrem mediante a apresentações de papers submetidos com antecedência, durante o período de chamadas abertas no website do evento. Os trabalhos devem responder a questão específica relacionada ao tema do evento. São priorizados textos produzidos por cientistas das religiões ou pesquisadores da ciência da religião em formação. Representantes de outras áreas são bem-vindos, desde que façam uma relação entre o conhecimento de sua área de origem com a ciência da religião.

Cada paper selecionado integra a uma mesa de discussões, cuja exposição oral não deve ultrapassar os 15 minutos. Após os trabalhos de uma mesa serem todos apresentados, ocorre uma interação com o público presente para comentários e opiniões sobre as propostas. Embora os proponentes devam se inscrever no website do evento com antecedência, o credenciamento para ouvintes é feito gratuitamente no dia e local do próprio SEMCREA.


Anais do 3º SEMCREA (2019):

Por: Fábio L. Stern
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Bolsista PNPD/Capes no PEPG em Ciência da Religião


quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Confúcio: plantando harmonia e virtude em meio à discórdia



Confúcio foi um pensador e filósofo chinês que viveu entre 551-479 a.C cujo nome é sinônimo da Filosofia Oriental (chinesa, coreana e japonesa). De origem modesta, Confúcio nasceu numa família humilde. Seu pai faleceu quando ele tinha apenas três anos. Assim, crescendo em relativa pobreza, teve uma série de empregos (pastor de rebanhos, escriba, guarda-livros), por isso, a humildade foi e continua sendo uma virtude central das culturas confucianas.  


Apesar da origem humilde, Confúcio alcançou uma posição de poder em sua vida adulta que o possibilitou a persuadir vários governantes que governar pela virtude era superior a governar pela coerção. Ele dedicou as últimas décadas da sua vida ao magistério, e, por isso, ele estabeleceu um enorme legado que viria a definir o caráter filosófico da cultura Oriental, de modo que, sua influência no Oriente chega a superar a influência de Aristóteles no Ocidente, pois, seu projeto tratava-se da compreensão das leis e sua aplicação na via cotidiana.

Na doutrina de Confúcio não há um Deus, uma unidade criadora e muito menos templos ou igrejas. Seu objetivo era a busca da harmonia da vida e do mundo. Ele falava de ‘meu Tao’ e aconselhava os seus discípulos a dedicarem inteiramente ao Tao, pois, segundo ele, se um homem escutasse o Tao de manhã e morresse à noite, ele não teria vivido em vão. O Tao é a harmonia predominante no universo, ou seja, o relacionamento equilibrado entre todas as coisas que deve servir de modelo para a sociedade.

Ele acreditava que a natureza e o universo estão sempre em harmonia, e que isso deve se aplicar também ao homem. Portanto, os homens devem viver em compreensão e harmonia. Para esse fim, o homem precisa de conhecimento e compreensão que podem ser obtidas pelo conhecimento da tradição, pois, para ele, o homem era naturalmente bom e que todo mal brota da falta de conhecimento. Por isso, a educação implica transmitir conhecimentos corretos.

Na sua formação foram importantes quatro obras acessíveis a ele na altura: O livro das mutações (aprendeu a seguir o caminho do ‘Tao’); O livro das odes (aprendeu a reverenciar o amor em suas manifestações poéticas e humanistas); O livro da história (aprendeu a venerar a ancestralidade); O livro da música (aprendeu a sintonizar com as vibrações que sustentam o universo). Mas, foi o ‘Tao’ conforme revelado à ele no livro das mutações, que permeou seu pensamento e deu forma ao seu sistema de ética e virtude.

Confúcio encorajava o comprometimento com a aprendizagem por toda a vida. Sua mensagem é que nascemos para aprender, em vez de permanecer em estado de ignorância. Mas, segundo ele, a busca do saber pelo saber, pode fechar a mente e não conseguir abrir o coração. Então, sabendo pouco ou muito, o mais importante é o que cada um faz com o que sabe na prática da virtude, pois, alguns praticam a virtude através do aprendizado, e outros, além.

Ele acreditava que a compreensão humana desenvolve-se através da interação entre teoria e prática, por isso, precisamos de teorias sólidas para formar nossas atividades práticas, para progredirmos como seres humanos. Por isso, a manutenção da ordem equilibrada depende da harmonia entre as teorias das circunstâncias mutáveis e da prática das virtudes imutáveis.



MARINOFF, Lou. O caminho do meio. Trad. de Paulo Andrade Lemos e Márcia Sobreiro. - São Paulo: Editora Record, 2008. 

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

BUDA: O CAMINHO DO MEIO



Siddhartha Gautama (566 a. C.- 486 a. C.), ou Buda “o desperto”, foi ele próprio um tipo de extremista em períodos diferentes de sua vida e descobriu que os extremos não nos ajudam a tornar-se despertos. Aos 40 anos, depois de anos de autoindulgência seguido por um árduo ascetismo religioso, ele tornou-se totalmente iluminado enquanto estava sentado em baixo de uma árvore bodhi.

Buda afirmou que os extremos não conduzem, em si a iluminação. Esses extremos são ilustrados na infelicidade que vemos no ocidente materialista e entre praticantes de religiões fanatizadas e o hedonismo americano que produz demais e consome demais. Cada um desses extremos acusa o outro de diabólico.

O Caminho do Meio de Buda nos ajuda a evitar esses extremos pela prática da moderação em nossas próprias vidas e da compaixão pelo sofrimento alheio. Ele nos ensina a não usar nossas diferenças como base de apegos negativos, como o ódio.

Qual é o Caminho do Meio de Buda? O caminho do meio é a reverência pela santidade da vida: a vida de cada um, a vida das outras pessoas, a vida da natureza e todas as inter-relações extensivas e intrincadas. Entretanto, para a consistência harmoniosa com os outros, precisamos “coexistir” harmoniosamente conosco.

Por isso, Buda pensa nas Quatro Nobres Verdades, que constituem na teoria e na prática de tal coexistência harmoniosa, pois, sua filosofia é racional, empírica, ou seja, científica. Então cada um pode testá-la.  

A Primeira Nobre Verdade é que a vida engendra o sofrimento, ou seja, todos sofrem: cristãos, muçulmanos, ateus, agnósticos, etc. o sofrimento é uma verdade inegável da existência humana...

A Segunda Nobre Verdade diz que o sofrimento tem suas causas, ou seja, todos os fenômenos estão sujeitos às leis de causa e efeito. Os ciclos de sofrimento humano, a luta, a dor, o desgosto, a lamentação, o desespero, o arrependimento, a doença e a morte – cada um tem sua causa...

A Terceira Nobre Verdade diz que a causa do sofrimento podem ser eliminadas, pois, o sofrimento humano desaparece quando suas causas são eliminadas, abrindo caminho para a harmonia, da tristeza para a felicidade, do desgosto para a alegria, da lamentação para a celebração, do desespero para a esperança, do arrependimento para a realização. Tudo é fugaz e temporário...   

A Quarta Nobre Verdade indica o caminho para libertar-se do sofrimento. Buda aponta um conjunto de práticas explícitas para a realização desta tarefa através do caminho óctuplo, pois, existem oito etapas de prática para a diminuição do sofrimento, ou seja: 
A compreensão correta (entender o sofrimento), o pensamento correto (ter boa vontade inofensiva), a palavras correta (entender o poder das palavras), a ação correta (fazer as coisas com moderação), o modo de vida correto (ganhar a vida de maneira prestativa), o esforço correto (encarar desafio de maneira construtiva), atenção correta (presença da mente, consciência das emoções) e a concentração correta (desenvolver poderes mentais da atenção, visualização, da compressão, da compaixão que levam a serenidade e tranquilidade).    
Isto é em parte, o que explica o fato de o Budismo ser mais do que uma religião, pois, qualquer outra religião depende do poder externo para a salvação  ou para a redenção. O Budismo não depende de poderes externos, pois, em vez disso, mobiliza recursos que estão dentro de cada um. O caminho do Meio mora dentro de cada um, e o Budismo desperta para ele.




Referência: 

MARINOFF, Lou. O caminho do meio. Tradução de Paulo Andrade Lemos e Márcia Sobreiro. – Rio de janeiro: Record, 2008, p. 97 a 104.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Afinal, quem era Jesus Cristo?


Quem era Jesus Cristo? Homem? Deus? Homem e Deus? E como relacionavam-se nele essas duas "naturezas", divina e humana? Onde termina uma e começa outra? 

Quando Jesus chora no Getsêmani (jardim das oliveiras) ou se desespera na cruz, é o homem ou Deus que agoniza? Como pode Deus agonizar? 

A opção final dos primeiros cristãos será pela natureza dupla e não misturada de Cristo, Deus e homem. Quando chora e agoniza na cruz, é o homem que fala. Quando ressuscita, é Deus quem vence a morte humana. Por outro lado, a dupla natureza de Cristo será importante para entendermos o peso da sua paixão: um Deus que sente dor por amor (ágape) à humanidade, esvaziando-se de seus "superpoderes" para sofrer a paixão em nome da pedagogia do amor, pedindo ao Pai (na condição de homem) que "perdoe porque eles não sabem o que fazem" e nos "redimindo" dos nossos pecados. A escolha pela dupla natureza não deve ser menosprezada porque ela carrega em si um sentido teológico essencial. 

Se Jesus fosse apenas um homem, mais um profeta de Israel ou um "mero" messias, como diziam os arianos, ele não teria poder para interromper sua paixão, e, portanto, seu amor pela humanidade poderia ser "diminuído", uma vez que fosse visto como fruto, em parte, de sua impossibilidade de mudar seu destino, isto é, de não sofrer a paixão injusta, uma espécie de sublimação melosa de seu fracasso. Jesus sofreria por não poder evitar sua própria agonia e, portanto, sua morte não poderia ser evitada, e seu amor seria então o amor de um justo, mas, fraco como todos nós. Seu amor não teria o impacto cosmológico-moral de alterar a economia do pecado. Há uma fina psicologia de Cristo em jogo aqui. 

Se por outro lado, ele fosse apenas espírito, sua paixão seria apenas uma farsa para emocionar o povo. Sua dor seria uma mentira. Sendo ele apenas um homem, seu amor seria "menor", sendo ele apenas um espírito divino, sem corpo, seu amor seria sem agonia verdadeira. Apenas a dupla natureza daria a Jesus sua grandeza teológica: um Deus que sofre livremente, por amor à humanidade. 

Todavia, a crítica histórica pontuará que a divinização de Jesus será feita à custa de um caráter popular original. Até na arte da época podem-se ver os sinais desse processo de divinização como roubo  do Cristo do povo e recriação da figura de Jesus na pele de um Deus que, na realidade, se faz parente do imperador bizantino: no teto da Basílica de Santa Sofia, em Istambul, hoje chamada de Aya Sofia pelos turcos, vemos o Deus Cristo "de mãos dadas" com o imperador, enquanto o povo fica de fora. 

Mais uma vez, política e teologia se confundem. Se é verdade que o Cristo pobre foi substituído com sua divinização, pelo Cristo da aristocracia bizantina, nem por isso, a teoria da dupla natureza de Cristo é menos importante para o drama que associa um Deus à paixão na cruz. Os desdobramentos contemporâneos dessa questão são muitos [...]. 


PONDÉ, Luíz Felipe. Para entender o cristianismo hoje. - São Paulo: Benvirá, 2011, p. 31, 32, 33.   

sexta-feira, 19 de julho de 2019

A homossexualidade e o cristianismo conservador a face cristã da intolerância religiosa espelhada na Bíblia.


RESUMO
Este artigo tem como objetivo principal analisar a partir da Bíblia, trechos que, ‘supostamente’ justificam atos de intolerância de cristãos ‘conservadores’ em relação aos homossexuais que, muitas vezes manifestam-se através doódio, do desprezo e da perseguição. O artigo será dividido dois momentos – primeiro: investigar alguns autores que refletem sobre o tema enfatizando historicamente os problemas enfrentados pelos homossexuais; segundo: analisar algumas passagens bíblicas, ‘condenatórias’ da homossexualidade. Assim, visamos corroborar a tese de que, o Cristianismo que prega o amor acima de tudo, vê na homossexualidade, motivos de exclusão e intolerância, sendo muitas vezes visto como abominação, e, por isso, moralmente condenável. Como recurso metodológico, usaremos a revisão bibliográfica objetivando obter informações sistematizadas, a partir de estudos críticos de vários autores, e, os resultados serão apresentados em um texto sucinto, visando não esgotar o assunto, mas lançar luzes sobre um tema absolutamente polêmico.

Palavras-chave: Bíblia, cristianismo, homossexuais, intolerância, abominação.

ROCHA, Arlindo Nascimento. A homossexualidade e o cristianismo conservador: a face cristã da intolerância religiosa espelhada na Bíblia. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 07, Vol. 06, pp. 68-92. Julho de 2019. ISSN: 2448-0959: disponível em:
https://www.academia.edu/39868705/A_homossexualidade_e_o_cristianismo_conservador_a_face_crist%C3%A3_da_intoler%C3%A2ncia_religiosa_espelhada_na_B%C3%ADblia>

segunda-feira, 1 de julho de 2019

Paradoxos da condição humana: grandeza e miséria como paradoxo fundamental em Blaise Pascal - Apresentação



A grandeza do homem é grande por ele conhecer-se miserável; uma árvore não se conhece miserável. É então ser miserável conhecer (-se) miserável, mas é ser grande conhecer que se é miserável [PASCAL, 2005, p. 40]






Arlindo Nascimento Rocha[1]

Influenciado pela cultura pós-moderna, a maioria dos homens tende a cumprir a maldição do homem atualizado para definir a ilusão de que, quanto mais perto estamos da informação global, mais perto estaremos da sabedoria, e, consequentemente, mais felizes seremos. Esta miopia é parcela da nossa atual cultura, ou seja, do último homem interpretado como uma ‘paródia’ da tirania do bem-estar físico, típico da nossa época. O comum dos homens está convencido da sua dignidade, o semissábio denuncia sua fragilidade, mas, o sábio descobre que a sua verdadeira dignidade reside no pensamento, que não deveria referir unicamente à dimensão epistemológica, uma vez que, é imprescindível a dimensão ética em que a dignidade humana deveria manifestar-se através do reconhecimento da sua grandeza miserável. Entretanto, o grande problema, é que a maior parte dos homens comporta-se contrariamente a essa advertência e buscam o conhecimento e a felicidade onde não podem encontrá-los, uma vez que, a maioria das pistas a serem percorridas, são como circuitos fechados, redondos ou elípticos, não levam a lugar nenhum, e servem apenas para correr em círculos, assevera Morin.

Contemporâneo de Descartes, Blaise Pascal vive uma época que procura enaltecer as potencialidades humanas e principalmente a existência racional do homem. Sendo a razão aquilo que nos distingue, somente o seu uso autônomo e integral, pode ser o caminho para a realização humana. Embora Pascal tenha vivido no contexto histórico do século XVII, cuja característica mais forte, foi o racionalismo cartesiano, distingue-se profundamente, nos princípios e nas consequências do estilo de pensamento que marcou de maneira decisiva os rumos da Filosofia Moderna.

No horizonte da sua Apologia está o conhecimento de Deus e do homem, mais precisamente, a tentativa de compreender a natureza humana através de sua procedência divina e a tentativa de compreender algo de Deus por via de sua imagem impressa no coração do homem. Daí, a existência contraditória representada pela nobreza da criatura divina e na abjeção, por ter renegado a Deus. Por isso, a salvação do homem depende de uma graça misteriosa absolutamente gratuita. Portanto, existe em nós, uma grandeza que deriva da nossa origem divina e do destino que a criatura deve cumprir, retornando ao seu criador, e, uma miséria, proveniente do pecado original, pelo qual a criatura preferiu a afirmação da sua sabedoria, à harmonia que deveria caracterizar a relação do homem e Deus.

Esta obra é uma versão modificada da minha dissertação de mestrado: Paradoxos da condição humana: grandeza e miséria como paradoxo fundamental em Blaise Pascal, apresentada ao Programa de Ciência da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 2016, sob a orientação do professor Doutor Luiz Felipe de Cerqueira e Silva Pondé. Nossa pesquisa encontra-se intimamente ligada à Filosofia da Religião, e retomamos o estudo do pensamento pascaliano com a pretensão de ampliar a discussão e a reflexão sobre a natureza humana, que é certamente, um dos aspetos que mais inquietou nosso filósofo. Por isso, nosso objetivo principal foi o de analisar a concepção paradoxal da natureza humana, presente na filosofia de Blaise Pascal, em sua dimensão existencial, como ser essencialmente contraditório, onde enfatizamos a relação entre ‘grandeza e miséria’, como paradoxo fundamental, cujo centro da reflexão é o homem decaído e investigar a ideia de uma individualidade do homem que reconhece sua própria identidade. Nossa análise foi temática, com o enfoque histórico, antropológico, epistemológico e psicológico.

A obra está dividida em cinco capítulos, onde analisamos inicialmente o contexto histórico da França do século XVI; os precursores do conceito de natureza humana; a visão antropológica do homem pascaliano antes e depois do pecado original; os limites do conhecimento racional, que são colocados pela condição da própria finitude humana e das múltiplas insuficiências; e, por último, lançamos o olhar sobre a epistemologia e a psicologia pascalianas, que guardam uma relação estreita com sua antropologia, e, enfatizamos conceitos como: imaginação, tédio e divertimento como marcas da insuficiência humana.


Espero que esta obra seja do proveito de todos os pascalianos, amantes, estudiosos ou não de sua obra, pois, esta será mais uma contribuição que nos ajudará na árdua tarefa de levar a todos um pouco mais sobre Pascal e o seu legado. Que o mesmo possa servir de instrumento de conhecimento, pesquisa e reflexão, pelos que se interessam por questões relativamente à condição humana e levam a sério tudo o que diz respeito ao homem – criatura em busca de si mesmo e em evolução continua através da ciência, da filosofia, da teologia e de todas as outras ciências cujo objeto principal é o homem.

“O erro hereditário de todos os filósofos é basear-se no homem de uma época particular e depois transformar isso numa verdade eterna”.
Friedrich Nietzsche

PARA ADQUIRIR UM EXEMPLAR É SÓ CLICAR NO LINK: 

Referência
ROCHA, Arlindo Nascimento. Paradoxos da condição humana: grandeza e miséria como paradoxo fundamental em Blaise Pascal. 1ª ed. – Maringá: Viseu, 2019, p. 15 a 17. 

[1] Autor da obra PARADOXOS DA CONDIÇÃO HUMANA, uma adaptação da dissertação de Mestrado apresentado na PUC-SP sob a orientação do Dr. Luiz Felipe Pondé em 2016.

terça-feira, 25 de junho de 2019

Estamos todos condenados à morte: o que a religião nos diz sobre isso?

"Embora essa reflexão esteja afastada do centro das reflexões filosóficas, não deixa de ser uma preocupação comum. No entanto, é possível constatar também que, boa parte dos homens estão mais preocupados com o aqui e o agora! Será que eles estão errados? E se não estiverem? Viver um dia de cada vez e usufruir o máximo de prazer, alegria e felicidade seria o melhor caminho? Tenho minhas dúvidas! Pois, o vazio existencial que muitas vezes me assombra leva-me a constatar o contrário! Precisamos nos angustiar antes, para que possamos valorizar momentos de felicidade? Também não tenho uma resposta! Mas sei que preciso viver para poder morrer! A vida e a morte são passagens para outras dimensões ou com a morte tudo acaba? Bom, se tudo acaba, é melhor aproveitar a vida! Mas, se existe um propósito e uma nova etapa após a morte, vale a pena levar uma vida austera e mais uma vez não apostar contra o infinito! Infinito! Mas o que sabemos do infinito? Será que morremos para poder viver ou vimemos para poder morrer!? Não há saída, uma vez que, por mais bela que seja nossa vida, um dia jogar-nos-ão terra sobre a cabeça, pois, quando nascemos nossa sentença já está dada".



segunda-feira, 20 de maio de 2019

V Simpósio Internacional sobre Migração e Religião: Aproximações interdisciplinares na mobilidade humana

"A Missão Paz anuncia o "V Simpósio Internacional sobre Migração e Religião: Aproximações interdisciplinares na mobilidade humana"

O evento será realizado entre os dias os dias 3 a 5 de junho de 2019, nas dependências da PUC-SP.


 
Desenho: Alessandra Matteo- Revelando Ideias

Para fazer sua incrição no evento como ouvinte clique aqui
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segunda-feira, 25 de março de 2019

A existência de Deus: um dos problemas fundamentais da Filosofia da Religião


 Arlindo Nascimento Rocha[1]

Resumo: 
Compreender Deus em sua totalidade é preciso primeiramente compreendê-lo no espírito humano como Ser  Absoluto e Supremo, Ser existente e não negado na esfera racional. Portanto, se Deus é o ser que existe na razão, deve-se analisa-Lo filosoficamente e, por meio da reflexão racional e posteriormente a afirmá-lo no espírito. Ao afirmá-Lo no espírito o que constitui a essência da nossa espiritualidade, podemos aferir que Deus não pode ser negado e passa a existir de Forma Absoluta contra qualquer dúvida. Por isso, nos próximos parágrafos refletiremos sobre um dos problemas fundamentais da Filosofia da Religião, ou seja, a existência de Deus.      

A existência de Deus: um dos problemas fundamentais da Filosofia da Religião

Em nosso entender, qualquer texto sobre Filosofia da Religião impõe-se como tarefa inicial clarificar suas formas de expressão e a de indicar seus principais temas. Nesse aspecto tanto uma como outra, ou seja, ‘Filosofia’ e ‘Religião’ são conceitos considerados polissêmicos, mas, segundo Paine (2013, p. 101) “longe de ser um sintoma de indefinibilidade, é antes marca de hiperdefinibilidade tal abundância de definições”. Isso é de certa forma corroborado por Kolakowski (1927-2009) em sua obra Philosophie de la religion publicada em 1985. Nessa obra, segundo Pena (1999,p.23), “nem a filosofia nem a religião dispõem de conceitos claros e bem definidos, no sentido de terem sua aceitabilidade consagrada por todos os especialistas”, mas, em nosso entender, essa ‘indefinibilidade’ ou ‘hiperdefinibilidade’ é muito mais discutida quando se trata da religião, “afinal, seja em termos histórico-etimológico seja em termo de teorização contemporânea, não há unanimidade ou equívoca universalidade acerca daquilo que se quer dizer com religião” (AHN apud PICH, 2013, p. 143). Entretanto, ao relacionarmos historicamente os dois conceitos é possível segundo Paine (2013) elencar três tentativas, a saber: (1) filosofia é religião (identidade), ou seja, uma aproximação íntima que se assemelha a uma fusão; (2) filosofia e religião (paralelismo), saberes distintos e inconfundíveis, tanto no método quanto no conteúdo; (3) filosofia na religião (teologias e metafísicas religiosas) uma vez que a cooperação entre ambas gerou grandes teologias, tanto no entendimento da primeira como serva da segunda, no caso do cristianismo, como também em correntes comparáveis como o Judaísmo e o Islã.  
Para clarificar as formas de expressão e indicar os principais temas em torno da Filosofia da Religião, foram trabalhados inicialmente autores como Grondin, Schaefler, Bilimoria, Taliaferro, Plantinga, Philips, e, posteriormente outros como, Paine, Pich, Graham Oppy, Nancy K. Frankenberry, Schilbrack, Yujin Nagasawa, só para citar alguns exemplos que foram abordados no sentido de entender como a Filosofia da Religião vem se posicionando face às outras disciplinas já consolidadas e qual tem sido seu papel na fundamentação epistemológica da Ciência da Religião, pois, como se sabe, ela pode ser entendida como análise e justificação dos fundamentos filosóficos da religião em geral tendo em conta seu interesse por todas as religiões e formas de religiosidade inclusive as contemporâneas. Isso fica explícito a partir do que é afirmando por Taliaferro, pois, segundo ele,
A filosofia da religião explora questões filosóficas que nascem da reflexão sobre a natureza e a verdade da crença religiosa e sobre os significados da experiência religiosa. [...] relaciona-se integralmente com a metafísica, a epistemologia, a ética, a filosofia da mente e outras áreas, das quais a história da filosofia não é uma das menos importantes [...] (TALIAFERRO, 2009, p. 445).
Ainda segundo o mesmo autor, a diversidade religiosa levou muitos a repensar suas crenças particulares e atualmente o estudo da Filosofia da Religião tem crescido bastante com o estabelecimento de novos periódicos dedicados a essa disciplina (Ibid.). Entretanto, como disciplina autônoma de fato, ela afirmou-se somente a partir do séc. XVIII, distanciando paulatinamente da Metafísica e da Ética, muito embora, acredita-se que o diálogo entre ambas é tão antigo como a própria filosofia. Então, pode-se considerar que ela é uma reflexão sobre o ‘fenômeno’ religioso, tendo em conta que está presente em todas as culturas. Nesse sentido segundo Grondin (2012) a primeira tarefa da Filosofia da Religião é redescobrir as indagações para as quais a religião é uma resposta, pois, acredita-se que ela oferece respostas sólidas sobre a existência. Por isso, ela reflete e questiona se a forma prática de vida que se designa como ‘religião’ é racionalmente plausível e o que se pressupõe como realidade é verdadeiro. Croatto (2010, p. 22) destaca Hegel (1778-1831) como sendo o precursor moderno da Filosofia da Religião e reconhece seus antecedentes em Kant (1724-1804), o impulso dado por Schleiermacher (1768-1834) e Schelling no séc. XIX, assim como a contribuição de Ricoeur (1913) e Henry Duméry (1920-2012). Ambos legaram obras importantes para a Filosofia da Religião.
De acordo como Frankenberry (2016), atualmente é possível identificar três trajetórias distintas em Filosofia da Religião, a saber: 1) o estudo comparado das tradições religiosas através do emprego de uma pluralidade de metodologias e perspectivas filosóficas; 2) uma abordagem centrada nos argumentos sobre a existência de Deus; o problema da linguagem religiosa; os desafios do positivismo lógico; e, o problema do mal; 3) e, finalmente, uma terceira abordagem em que a Filosofia da Religião formou alianças com áreas como método e teoria no estudo da religião, ética e o estudo científico-social da religião. Nessa pesquisa termos como foco, a segunda abordagem, mais especificamente, como referimos no título acima refletiremos sobre o tema A existência de Deus como sedo um dos problemas fundamentais na história da Filosofia da Religião, embora Schilbrack (2014) em seu artigo What is philosophy of religion afirme que este assunto não deve ser limitado apenas a afirmações sobre Deus, mas também deve incluir as reivindicações filosóficas de religiões politeístas e não-teístas, tendo em conta que, “o raio de ação da Filosofia da Religião é muito mais amplo, pois, terá de tomar posição em face de todas as filosofias que ocasionaram violência e foram redutivas em relação à religião” (TERRIN, 2003, p. 32). O conceito de Deus, segundo (ZILLES, 2004, p. 11) é um dos mais antigos, mais universais e mais fecundos do patrimônio cultural da humanidade. Por isso, esse tema sempre preocupou os filósofos desde a filosofia pré-socrática até nossa era, esse assunto tem sido amplamente discutido principalmente por teólogos e filósofos da religião. Nesse aspecto, os que atacam os argumentos a favor da existência de Deus criticavam sua forma argumentativa; e, os que defendiam, aceitavam sem sentido implícito. Entretanto, essa questão continua em aberto, pois, ela não foi solucionada, e, apesar dos argumentos de ambos os lados pode-se concluir que se não há provas da existência de Deus, também é verdade que não existem provas da sua não existência. No entanto, é plausível afirmar que, “poucos argumentos na história da filosofia produziram tanto debate quanto essas famosas tentativas de defender a Deus sem fazer referência à experiência sensível” (WILKINSON, 2014, p. 136).
Se consideramos que a filosofia teve início com os assim chamados pré-socráticos, cujo principal objeto de estudo era a natureza, em Sócrates (469 a.C.-399 a.C.) assistimos uma mudança de objeto de estudo que passa a ser o homem, em seguida Platão (427/347 a.C.) criou o mundo das ideias e finalmente Aristóteles (384 a.C./322 a.C.) trouxe ao mundo real as concepções ideais do mundo das ideias do seu mestre. Mas, neles todos é possível verificar que a reflexão sobre Deus não passou despercebido a começar por Talles de Mileto (624 a. C.- 546 a.C.) a quem se atribui a célebre passagem segundo a qual “tudo está cheio de deuses” ou ainda a célebre frase de Heráclito de Éfeso (535 a.C. - 475 a.C.) convidando os visitante a entrar em sua cozinha: einai gar kai enthautha theus, “pois, aqui também existem deuses” (LANGLOIS, et al 2009, p. 14). Superando o período clássico veio a Idade Média onde surgem vários filósofos tentando provar a existência de Deus, muitas vezes com argumentos difíceis de serem entendidos. Entre eles podemos citar o argumento ontológico de Santo Anselmo[2] (1033-1109) e as cinco vias da prova da existência de Deus São Tomás de Aquino (1225/1274). Lentamente chegamos a Descartes (1596-1650), Pascal (1623-1662), Hume (1711-1776), Kant (1724-1804), e, finalmente, Nietzsche (1844-1900) e seu pensamento cético, tendo ele, segundo Pena (1999), proclamado no final do século XIX a morte de Deus, e, essa conclusão Nietzschiana “foi acompanhado de um processo de distanciamento da filosofia ocidental da religião e da Filosofia da Religião e, finalmente, surgiu o pensamento analítico que parecia destruir tudo” (ZILLES, 2004, p. 45), pois, ele argumentara que, não haveria lugar para Deus num século totalmente dominado pela relevância alcançada pela ciência [...] o mundo já dominado pelo pensamento mecanicista, não oferecia mais espaço para reflexões do estilo teológico ou metafísico (PENNA, 1999, p.17). Entretanto, ele seria superado pelo pensamento existencialista de Sartre (1905-1980), e, contrariamente à Kierkegaard (1813-1855) que colocara o homem diante de Deus e da sua eternidade, Sartre afirmava que o homem é uma paixão inútil que está entregue a sua própria sorte e é o único responsável pelo seu próprio destino.
Diferente de Anselmo, Aquino e Descartes, Blaise Pascal não acredita nas provas sobre a existência de Deus, e questionava: afinal, Deus existe ou não existe. Para que lado pendemos?  Ele não pretendeu chegar a Deus através de provas racionais, mas, a partir do funcionamento do homem, recorrendo ao paradoxo, ou seja, a dualidade entre a sua miséria e a sua grandeza. Em sua Apologia destaca-se a tentativa de compreender a natureza humana através de sua procedência divina e a tentativa de compreender algo de Deus através de Sua imagem impressa no coração do homem. Daí, a existência contraditória representada pela nobreza da criatura divina e na abjeção, por ter renegado a Deus. Desde Pascal, costuma-se opor o Deus dos Filósofos ao de Abraão, Isaac e Jacó. Para ele, o primeiro seria o de Descarte ou o de Espinoza, ou seja, um Deus racional que funda o cálculo metódico que criou o mundo e o homem, enquanto que o segundo seria o Deus que toca o sujeito no seu íntimo. Pascal nega categoricamente a possibilidade de provar a existência de Deus através dos argumentos ditos racionais, pois, para ele, por mais que sejam belos e bem elaborados, eles serão sempre insuficientes, e sustenta que,
Se há um Deus, ele é infinitamente incompreensível, uma vez que, não tendo as partes nem limites, não tem qualquer comparação conosco. Somos, pois, incapazes de conhecer, quer aquilo que ele é, quer se ele é. Assim sendo, quem ousará compreender a tarefa de resolver essa questão? Não somos nós, que não temos nenhum ponto em relação a ele (PASCAL, 2005, p. 159).       
Para os que acreditam que seja possível provar Sua existência racionalmente, Pascal, insiste em sustentar as limitações da razão, pois, segundo ele, “a razão nada pode determinar a esse respeito” (ibid.), uma vez que, ela é fraca, insuficiente e limitada, e, só nos proporciona o conhecimento do milieu (meio). Segundo ele,
Conhecemos, pois, a existência e a natureza do finito porque somos finitos e extensos como ele. Conhecemos a existência do infinito e ignoramos a sua natureza porque ele tem extensão como nós, mas não tem limites como nós. Mas, não conhecemos nem a existência nem a natureza de Deus porque ele não tem nem extensão e nem limites (PASCAL, 2005, p. 159).      
Entretanto, ele defende que, pela fé conhecemos Sua existência e pela glória sua natureza, mas, isso só será possível através da Aposta, pois, ao invés das demonstrações racionais ele defende as provas históricas do cristianismo e o raciocínio que ressaltam a razoabilidade da doutrina da Queda, por isso, sua Aposta não visa provar a existência de Deus, mas levar o incrédulo a aceitar que é melhor apostar na Sua existência do que na Sua não existência, pois, quando se aposta contra o infinito (Deus) perdemos sempre, então, para Pascal, “é preciso apostar” (ibid.).  A Aposta, segundo ele, é a atitude mais racional, pois, aquele que aposta na existência de Deus não tem nada a perder e tudo a ganhar, a salvação e a vida eterna, por isso, é preciso olhar para aquilo que traz maior benefício. Ele afirma que não temos escolha entre o acreditar ou não, pois, se “você vence, você ganha tudo, mas se você perde, você não perde nada. Assim, sem hesitar, aposte que Ele existe”(Ibid.).
Entretanto, para alguns críticos, a Aposta de Pascal é uma falácia argumentativa denominada falso dilema, em que se tenta restringir o número de possibilidades quando, na realidade há muitos outros. Entre eles pode-se citar o britânico Richard Dawkins (1941), ateu confesso que, em seu entendimento, a Aposta de Pascal, só poderia ser, quando muito, um argumento para se fingir a crença em Deus, pois, segundo ele, o acreditar não é algo que esteja sujeito à decisão, um rumo por que se opta (DAWKINS, 2018). Matt Dillahunty (1969) ex-presidente da Atheist Community of Austin é outro ateu que afirma que a Aposta é uma falsa dicotomia, pois, ela ignora todas as outras possíveis religiões, ignora outros paraísos e outros infernos, faz a afirmação de que adorar e acreditar não custa nada, presume que a crença esteja sujeito ao arbítrio e que, determinando que se tenha uma aposta segura, e que se pode ir adiante e escolher acreditar, e, por isso, é uma das coisas mais ridículas. Entretanto, muitos cristãos acreditam que Aposta de Pascal, reforça e incute nos crentes a coragem para decidir em prol da existência de Deus.     
Mais recentemente, e ainda versando sobre essa questão na tentativa de superar as diversas visões que os crentes, filósofos e cientistas têm em relação a Deus, na introdução da obra Abordagens Científicas da Filosofia da Religião, Nagasawa (2012) reflete sobre a questão da existência de Deus e usa os seguintes termos O Deus de Abrão, o Deus dos filósofos e o Deus dos cientistas. Segundo ele, na primeira é chamada de abordagem sobrenatural, pois, os crentes tentam compreender a existência e natureza de Deus através de meios sobrenaturais, na segunda os filósofos tentam compreender a existência e natureza de Deus através do pensamento racional e analítico, e, na terceira, ou seja, na abordagem científica, os cientistas tentam compreender a existência e natureza de Deus, apelando para a pesquisa empírica e estudos científicos. Esta é uma interessante combinação das duas abordagens tradicionais acima. Nesse aspecto, segundo Hock (2010, p. 15), “uma perspectiva de cooperação entre a Ciência da Religião e a Filosofia da Religião está se abrindo no esforço partilhado em prol de uma linguagem científica comum, com base em padrões e modos de procedimento metodologicamente claros”.   
Palavras finais:
Depois de tudo o que foi investigado e escrito, não restam dúvida, sobre a importância da Filosofia da Religião como área de conhecimento que reflete sobre questões cruciais entre Filosofia e Religião, mas, seu objetivo não é tornar as pessoas religiosas, pois, o trabalho dos filósofos não visa doutrinar o público, ensinar ou incentivar as pessoas a serem crentes, principalmente no que tange a existência ou não de Deus, pois, o desejo de conhece-Lo é como a busca de um cego a caminho do desconhecido, e, partindo de uma frese de Lessing, um suspiro sem palavras dirigido a Deus é a melhor maneira de adorá-Lo. Mas, torna-se inevitável não concordar com a sentença Nietsche sobre a morte de Deus, pois, ele sustenta que com isso a história do Ocidente atinge o ápice do niilismo, embora vozes contrárias dizem que Ele esteve, está e estará sempre presente nas pequenas ações e coisas simples, e, os mais otimistas não duvidam que estudos hoje clássicos mostram a influência da ideia de Deus e as concepções teológicas exercem sobre a ciência importantes influências, por isso, muitos defende que Deus é a maior ideia inventada pelo homem, mas, dele pouco ou nada sabemos, pois, Ele escapa à verificação científica, a ordem do ser e nossa linguagem será sempre insuficiente na sua tentativa de expressar o inefável.    

Referências
CROATTO, José Severino. As linguagens da experiência religiosa: uma introdução à fenomenologia da Religião. – 3ª ed. – São Paulo: Paulinas, 2010.
FRANKENBERRY, Nancy. Enduring questions in philosophy of religion: a response to Neville and Godlove. American Journal of Theology & Philosophy 37, no. 1 (2016): 36-52.
GRONDIN, Jean. Que saber sobre filosofia da religião. – Aparecida, SP: Editora Ideias & Letras, 2012.
HOCK, Klauss. Introdução à ciência da religião. Tra. Monika Otterman. - São Paulo: Edições Loyola, 2010.  
KOŁAKOWSKI, Leszek. Philosophie de la religion. – Paris: Fayard, 1985.
LANGLOIS, Luc; ZARKA, Yves Charles (Org.). Os filósofos e a questão de Deus. – São Paulo; Edições Loyola, 2009.
MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia: Dos pré-socráticos a Wittgeinstein. - 7ª ed. – Rio de Janeiro: Zahar, 2011. 
NAGASAWA, Yujin. The God of Abraham, the God of the philosophers and the God of the ccientists. In: scientific approaches to the philosophy of religion. University of Birmingham, UK: Springer, 2012.
PAINE, Scott, Randall. Filosofia da religião. In: compendio de ciência da religião. João Décio Passos, Frank Usarski (Org). – São Paulo: paulinas, 2013.
PASCAL, Blaise. Pensamentos. - 2ª ed.- São Paulo: Martins Fontes, 2005. (Paidéia).
PENNA, Antônio Gomes. Em busca de Deus: introdução à filosofia da religião. – Rio de Janeiro: Imago, Ed., 1999. 
PICH, Roberto Hofmeister. Religião como forma de conhecimento. In: compendio de ciência da Religião/ João Décio Passos; Frank Usarski (Org.). - São Paulo: Editora Paulinas:  Paulus, 2013.
SCHILBRACK, Kevin. What is Philosophy of Religion? Publicado em 2014. Disponível em: <http://philosophyofreligion.org/?p=51868>. Acesso em 04/12/2014.
TALIAFERRO, Charles. Filosofia da religião. In: Compendio de Filosofia da Religião. Nicholas Bunnin; E. P. Tsui-James (Org.). – 1ª ed. – São Paulo: Editora Loyola, 2009.
TERRIM, Aldo Natale. Introdução ao estudo comparado das religiões. – São Paulo: Editora Paulinas, 2003. - (Coleção Religião e Cultura)
WILKINSON, Michael B. Filosofia da Religião. Michel B. Wilkinson; Hugh N. Campbell. – São Paulo: Paulinas, 2014. 
ZILLES, urbano. Crer para compreender. – Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.




[1] Doutorando em Ciências da Religião – (PUC-SP) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; bolsista da CAPES. E-mail. arlindonascimentorocha@gmail.com.
[2] Segundo Pena (1999, p. 70), um dos argumentos mais discutidos, mais criticados é, todavia, mais presentes em toda a história da filosofia, é o argumento ontológico proposto por Santo Anselmo de Canterbury. Parte-se de uma afirmação de que Deus é um ser perfeito, daí decorrendo a necessidade mesma de sua existência [...] a rejeição do argumento foi enfaticamente efetuada por Kant, quando denunciou não ser a existência um predicado [...].

segunda-feira, 11 de março de 2019

3º Seminário de Ciência da Religião Aplicada - PUCSP/2019

"O Seminário de Ciência da Religião Aplicada (SEMCREA) é um evento discente anual do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciência da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e tem como objetivo semear contribuições e aplicações profissionais que cientistas das religiões podem apresentar à sociedade."

O EVENTO É GRATUITO E ACONTECERÁ NO DIA 25/03/2019


Anais do Primeiro Seminário de Ciência da Religião Aplicada - 1edição - 2017:

Anais do Segundo Seminário de Ciência da Religião Aplicada - 2ª edição - 2018:

PARA MAIS INFORMAÇÕES CLIQUE EM: [http://congressos.pucsp.br/index.php/SEMCREA/2019]

Fonte: Página do evento. Acesso em 11/03/2019.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Diferença entre ontologia 'dualista'​ ontologia 'monista'

A raiz do termo ontologia vem do grego ontos (ser) mais logia (estudo) então, ontologia pode ser definida como sendo o estudo filosófico da essência do ser e da realidade englobando questões gerais relacionadas ao significado da existência de todos os tipos de entidades, imanentes ou transcendentes, abstratas ou concretas, físicas ou metafísicas que constituem o mundo. Tradicionalmente, ela se divide em ontologia ‘dualista’ e ontologia ‘monista’.

Os assim chamados de pensadores dualistas defendem a existência de uma duplicidade de substâncias, significado comum difundido por uma grande parte da tradição filosófica. Já a ontologia monista é aquela que admite apenas a existência de uma única substância, compreendendo nessa categoria tanto os materialistas ou os idealistas. Os primeiros só admitem a existência de entes ou realidades físicas e concretas, enquanto que os segundos admitem apenas a existência de ideias ou entes abstratas ou metafísicas.

Basicamente, a diferença entre o dualismo e o monismo consiste precisamente em que, o primeiro (dualismo) vê o ‘cosmos’ composto por realidades terrestres (físicas) em que o ser supremo é imanente e realidades transcendentes (metafísicas) em que o ser supremo é transcendente; enquanto que o segundo (monismo) defende a existência de uma única realidade onde não existe separação necessária, ou seja, existe uma unicidade substancial. Para os dualistas, essas realidades (físicas ou metafísicas; imanentes ou transcendentes) são realidades que por sua natureza compõe um todo organizado enquanto que os monistas vêm apenas uma dessas realidades como sendo a única que de fato existe, ou seja, a imanência exclui a transcendência, a física exclui a metafísica, o abstrato exclui o concreto e vice-versa.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

A ideia cristã do 'pecado original' é incompatível com o Hinduísmo, o Budismo e o Islã


De acordo com os cristãos, a doutrina do ‘pecado original’  pretende explicar a origem da imperfeição humana, do sofrimento e da existência do mal através da queda do primeiro homem que desobedeceu aos desígnios do Criador (Deus) e como resultado, a natureza de Adão e toda a sua descendência tornou-se pecaminosa. No entanto, essa doutrina apenas faz referência ao Cristianismo, e, por isso, é considerada incompatível com as outras religiões mundiais, ou seja, o Hinduísmo, o Budismo e o Islamismo.

No primeiro caso (Hinduísmo), e, por acreditarem em sucessíveis reencarnações, a ideia de pecado é substituída por duas noções intimamente ligadas. A primeira: o samsara, ciclo de morte e renascimentos que mantém preso todo ser vivo; segunda o Karma, ou seja, o ato e sua consequência inseparáveis que aprisiona todo ser no ciclo das mortes e renascimentos. Para sair desse ciclo, cada ser precisa melhorar seu Karma ao longo das várias reencarnações, por isso, o hinduísmo apresenta várias vias para alcançar o moksha, ou seja, a libertação do ciclo de renascimentos como objetivo de vida de todo hindu. 

No Budismo também não existe a noção de pecado original, pois, segundo os budistas, ninguém nasce pecador, mas as pessoas sofrem porque vivem. Então a primeira sensação do viver é o sofrimento e não a felicidade uma vez que, a vida é sofrimento. O objetivo dos budistas é alcançar o nirvana através do conhecimento das quatro nobres verdades e percorrendo o caminho óctuplo que significa ter entendimento, pensamento, linguagem, ação e esforço corretos antes dos desejos. 

O islamismo também não ensina nada semelhante à ideia cristã de pecado original, pois, o Islã ensina que os homens pecam por livre escolha, não por terem nascido pecadores, como é no caso do Cristianismo. Por isso, eles adotam a doutrina pelagiana que, sustenta que o homem é responsável pela sua própria salvação e, por isso, não precisa de graça. No entanto, os muçulmanos reconhecem, que, o pecado é algo contrário à Deus, ou seja, é a inclinação humana para fazer aquilo que é contrário a Deus.