A
partir da legislação que rege o Ensino Religioso, a diversidade religiosa constitui-se
como princípio epistemológico fundante da abordagem em sala de aula. O Artigo
33 da lei 9. 475 menciona que seja “assegurado o respeito à diversidade cultural
religiosa do Brasil”. Mas, na prática não é isso que acontece. Assim, torna-se
importante elencar duas questões que são fundamentais:
Como dar conta da diversidade religiosa nas escolas?
Como
elaborar um Ensino Religioso que dê conta da tolerância religiosa?
Responder
essas e outras questões é fundamental para a materialização de um Ensino Religioso
que seja plural. Lecionar o Ensino Religioso nas escolas, respeitando a
diversidade, é uma tarefa complexa, tendo em conta a complexidade/diversidade
do seu objeto de estudo, e da pluralidade religiosa que constatamos no Brasil.
Sendo assim, torna-se imprescindível:
Estudar os vários modelos de Ensino Religioso, como meio
metodológico que auxilie o entendimento das práticas pedagógicas no Ensino
Religioso;
Disponibilizar a partir dos modelos apresentados,
pormenores para o esclarecimento dos fundamentos que subjazem às concepções e
práticas de Ensino Religioso;
Valorizar
o pluralismo e a diversidade cultural presente na sociedade brasileira e possibilitar
esclarecimentos sobre o direito à diferença na construção de estruturas
religiosas que têm na liberdade o seu valor inalienável.
De acordo com Lima (2016, p. 7):
De acordo com Lima (2016, p. 7):
favorecendo da força ética das religiões, o Ensino
Religioso pode produzir uma educação fundamentada na tolerância, no respeito,
na convivência e na paz como princípios fundamentais do convívio humano
harmonioso na sociedade. Dentro de um contorno pedagógico, o Ensino Religioso
protege, não obstante as contradições, limites e ambiguidades, a diversidade de
crenças e o pluralismo religioso em conformidade com os Parâmetros Curriculares
Nacionais e a legislação educacional brasileira.
Assim,
baseado nas palavras do autor citado, tentaremos sistematizar os vários modelos
de Ensino Religioso e posteriormente fazer um paralelo com os valores relativos
ao respeito e à diversidade religiosa nas escolas.
Sistematizando os vários modelos podemos elencar os seguintes:
Sistematizando os vários modelos podemos elencar os seguintes:
Modelo confessional/catequético;
Modelo teológico;
Modelo da Ciência da Religião.
O
modelo confessional/catequético estrutura-se a partir do ensino de uma
determinada confissão religiosa no espaço escolar. Os alunos são vistos como
fiéis. Este modelo em suas variantes pressupõe, em última instância, a fé do
aluno, ou a abertura e, também, a formação de salas diferentes de acordo com as
opções de fé, com exceção da escola confessional.
A escola
confessional baseia os seus princípios, objetivos e forma de atuação numa
religião, diferenciando-se, portanto, das escolas laicas. Para esse
tipo de escola o desenvolvimento dos sentimentos religioso e moral
nos alunos é o objetivo primeiro do trabalho educacional.
Os
críticos desse modelo apontam seus limites:
A confusão do Ensino Religioso com a catequese;
A divisão dos alunos no espaço escolar;
A crença na pertença e crença eclesial;
Indiferença em relação ao pluralismo religioso na
presente na realidade escolar.
Entretanto,
o modelo confessional pode ser levado adiante no contexto da escola particular
desde que pensado nos termos dos princípios da legislação atual.
Atualmente,
Ensino Religioso e Catequese não se identificam, no entanto não se contrapõem.
A questão está no enfoque sobre o objeto: o Ensino Religioso visa à educação da
religiosidade e a Catequese a educação da fé; a Catequese supõe a fé. A
Catequese inspira-se no que é próprio da sua religião, objetiva desenvolver a
formação na fé.
O
modelo teológico é uma perspectiva “ecumênica” do Ensino Religioso. Alguns
autores como Sérgio Junqueira (2002) preferem denominar esse modelo de interconfessional,
inter-religioso e inter-relacional. João Décio Passos refere ao modelo
teológico da seguinte forma:
A teologia não configura necessariamente, conteúdos
confessionais nas programações do Ensino Religioso, mas, age, sobretudo, como
um pressuposto que sustenta a convicção dos agentes e a própria motivação da
ação; a missão de educar é afirmada como um valor sustentado por uma visão
transcendente do ser humano. A religiosidade é, portanto, uma dimensão humana a
de ser educada, o princípio ‘fundante’ e o objetivo fundamental do Ensino
Religioso escolar.[1]
Essa
visão, conquanto revele uma disposição democrática da disciplina do Ensino
Religioso, também parte do dado da fé nas diversas designações religiosas e
procura o diálogo com diferentes confissões religiosas da sociedade de forma a
proporcionar o respeito e o diálogo entre as religiões visando à formação
integral do ser humano.
A
nova visão do modelo da Ciência da Religião, é considerado pelos especialistas
como o “novo paradigma”[2]
do Ensino Religioso. Segundo Soares e Stigar (2016, p.145, 146):
Um paradigma possui um modelo de racionalidade no qual se
incluem todas as esferas, quer científicas, filosóficas, teológicas, ou até
mesmo de senso comum. O Ensino religioso em todos os seus modelos é carregado
de paradigmas que representam uma mentalidade de uma determinada época.
Com a
emergência do novo paradigma da Ciência da Religião, o Ensino Religioso adquire
autonomia como área de conhecimento e como saber com estatuto epistemológico e
pedagógico próprios. Assim, a disciplina, no contexto das escolas públicas, não
necessita mais de ser desempenhado por um teólogo, um pastor ou um padre, mas
por um cientista da religião com formação e capacidades pedagógicas para o
desempenho da docência. De Acordo com Fonseca (2011, p. 129), “a formação dos
cientistas da religião deve ocorrer a partir de procedimentos e avaliações
peculiares ao Ensino Superior e que propicie o desenvolvimento de habilidades e
competências específicas”.
Diferente
dos outros profissionais do Ensino Religioso o cientista da religião deve ser
capaz de:
Aproximar, analisar e interpretar um fenômeno religioso
em estudo, sem que seus pré-conceitos interfiram na pesquisa realizada sobre o
mesmo, o que não pressupõe necessariamente “neutralidade”, já que esta última
implica na total insensibilidade e absoluta ausência de envolvimento e opinião
do estudioso quanto ao fenômeno estudado;
Ser imparcial, porém, jamais neutro, o que tiraria a
sensibilidade e o senso crítico necessário para a apreensão e crítica dos
inúmeros sentidos secundários de um símbolo religioso.
A
partir desses pontos, ficou claro que nossa pretensão é apresentar uma reflexão
que some esforços na busca de caminhos para uma ética global e para o diálogo
com a diversidade religiosa, mas sem a ilusão de que o diálogo seja possível
com todos.
É
óbvio que, se tivéssemos que escolher um modelo em que o diálogo fosse indispensável, embora não exclusiva, seria o modelo da Ciência da Religião, uma vez
que rompe com os outros modelos em nome de da autonomia pedagógica epistemológica da disciplina, salvaguardando assim, o respeito à diversidade
religiosa dos alunos e de todos envolvidos no processo de ensino e
aprendizagem, pautando-se pelo ateísmo metodológico por parte do cientista da
religião e a garantia do diálogo inter-religioso e do respeito pela diversidade
religiosa.
VÍDEO SOBRE DIVERSIDADE RELIGIOSA.
Referências:
FONSECA, Alexandre Brasil. Relações e
privilégios: estado, secularização e diversidade religiosa. – Rio de Janeiro:
Novos Diálogos Editora, 2011.
LIMA, Ronald. Novas perspectivas para
o Ensino religioso no Brasil: uma educação para convivência e a paz no contexto
religioso plural. – 1ª Edição: Clube dos Autores, 2016.
SOARES, Afonso. M. L; STIGAR Robson.
Perspectivas para o Ensino Religioso: uma Ciência da Religião como novo
paradigma. In: Revista Rever. Ano 16. no 01, janeiro de 2016.
XAVIER, Mateus Geraldo. A contribuição
do Ensino religioso no acesso a fé: uma leitura teologia-pastoral. Edições
Loyola, São Paulo, Brasil, 2006.
[1] PASSOS, 2006, p. 31 apud LIMA,
Ronald, 2016, p. 23.
[2] Paradigma pode ser
entendido como um modelo, uma referência, uma diretriz, um parâmetro, um rumo,
uma estrutura, ou até mesmo um ideal. Algo digno de ser seguido [...] Um
paradigma é a percepção geral e comum – não necessariamente a melhor – de ser
ver determinada coisa, seja um objeto, seja um fenômeno, seja um conjunto de
ideias. (SOARES, Afonso; STIGAR, Robson, 2016, p. 145).
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