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sábado, 3 de setembro de 2016

Diferentes formas de entender a palavra “religião”



A pergunta pelo conceito e pelo termo religião leva imediatamente ao centro da Ciência da Religião e, ao mesmo tempo, a um de seus debates internos mais importantes, que segundo Klaus Hock, não será concluído num futuro próximo. Mal-entendidos nascem de termos imprecisos. O que é fácil para cientistas exatos é problemático para cientistas da religião, que quase não podem comunicar seus resultados como uma fórmula ou um cálculo.

De acordo com Hans-Jurgen Greschat, a palavra “religião” é como um labirinto. Perde-se nele que não trouxer um fio na mão para se orientar. Logo após a entrada, encontramos ambiguidades. O Uso da palavra “religião” é corriqueiro, mas parece que somente especialistas conhecem o termo “Ciência da Religião”. Os demais articulam a vaga sensação de que se trata de “teologia ou algo semelhante”.

Um dos problemas na definição do termo “religião” reside no fato de que o próprio termo nasceu num contexto cultural e histórico muito específico:
     a.    Primeiro: história intelectual do ocidente;
b.    Segundo: termo universal em contextos históricos e culturais distintas.
Assim, o termo não é usado de forma uniforme, e até sua derivação terminológica é disputada. Basicamente, a palavra latina religio, à qual remonta descreve uma “atuação como consideração” ou a “observância cuidadosa”;
a.   Cícero (104-43 a. C) define religio como cultos deorum, ou seja, como “culto” dos deuses, como “cultivo” ou “adoração” dos deuses;
b.    Lactâncio (séc. III/IV), deriva religio de religare, ou seja, ligar, amarrar), ligar de novo, ligar de volta, levar de volta;
c.  Santo Agostinho (354-430) descreve a religio vera como “verdadeira religião” como aquela que é orientada pelo zelo de reconciliar e “ligar de volta” a alma que se afastou de Deus.
d.    Recentemente foi proposta uma terceira variante: derivar religio de ren ligare, “amarrar a coisa”, no sentido de descansar das inquietudes.

O que define uma religião: Frank Usarski.


Visão do Cientista da Religião sobre o termo "religião"

A perspectiva do Cientista da Religião sobre o objeto “religião” é bem diferente do olhar de outros cientistas ou pessoas comuns. Greschat é de opinião que o objeto pode ser circunscrita em três frases, conforme os cientistas da religião percebem-no:
     a.    Vêm o objeto “religião” como uma totalidade;
b.    Reconhecem que essa totalidade apresenta-se de maneira quádrupla;
c.   Observam que essa totalidade está viva e que, portanto, não pára de se transformar.
Assim, podemos concluir que:

Primeiro: a visão da totalidade torna-se um divisor de águas entre cientistas da religião e outros cientistas que se ocupam esporadicamente da religião. Em outras palavras o Cientista da Religião é um especialista capaz de associar suas investigações especiais à religião como totalidade;

Segundo: as religiões podem ser estudadas como uma totalidade de investigação de acordo com quatro perspectivas: como comunidade, como sistema de atos, como conjunto de doutrinas, ou como sedimentação de experiências;

Terceiro: religiões vivas mudam sem cessar. Por vezes a mudança fica escondida até que se torne perceptível. Religiões vivas constituem em tradições herdadas ali e fiéis aqui, em intelectualizações de teólogos contemporâneos, em respostas antigas e perguntas modernas. Dentre esses pólos ela urge um equilíbrio, demanda que, às vezes, é acompanhada por descargas e estrondos.

Os cientistas da Religião são seres humanos. Apesar disso, quando exercem sua profissão não se devem deixar influenciar por sentimentos como “chato”, “horroroso” ou “fascinante”.

Referências.
GRESCHAT, Hans, Jurgen. O que é a religião?.- São Paulo: Paulinas, 2005. – (Coleção repensando a religião).
HOCK, Klauss. Introdução á Ciência da Religião. São Paulo – SP: Edições Loyola, 2010,   


    

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