Arlindo nascimento Rocha[1]
Resumo: Este artigo tem como objetivo
fazer uma reflexão sobre a nossa origem comum. Apesar das nossas diferenças genéticas,
culturais e políticas é inequívoco que ao mergulharmos na historia da humanidade,
logo chegaremos a uma mesma conclusão: todos os seres humanos têm a mesma
origem, e por isso, somos todos iguais apesar das nossas diferenças. A origem comum da espécie
humana foi encontrada há milhões de anos na África. Essa teoria é sustentada
por diversos estudos antropológicos, e, através de pesquisas arqueológicas que
descobriram restos dos nossos antepassados mais longínquos no continente
africano, mais propriamente, na Tanzânia, no Quênia e na Etiópia.
Por baixo da pele somos todos africanos
Quando se fala da África, é muito comum ainda hoje, encontrar pessoas que pensam tratar-se de um único país. Também é comum associar os africanos com negros que vivem um tipo de organização tribal. Então, torna-se imperioso desmontar os preconceitos e dar a conhecer as pessoas a história do continente, principalmente por ter sido o berço da humanidade.
De acordo com Hans Küng, em sua obra As religiões do mundo: em busca do ponto comum de (2004, p. 38), “o homem é um ser que incessantemente reflete sobre suas origens. Na religião, na filosofia, nas ciências.” Ou seja, desde sempre, procurou entender, compreender e descobrir a resposta para milhares de perguntas vitais que se formulam. O homem respondeu primeiro com base no empírico, observando tudo o que o cercava, e ali descobriu sua incapacidade de revelar tudo por si só. Muitos estudiosos acreditam que o homo sapiens, o homem assim como é hoje teria desenvolvido em diversos lugares do mundo. Mas a tese mais aceite pelos antropólogos, é que o primeiro homem surgiu na África há cerca de dois milhões de anos atrás.
De acordo com Hans Küng, em sua obra As religiões do mundo: em busca do ponto comum de (2004, p. 38), “o homem é um ser que incessantemente reflete sobre suas origens. Na religião, na filosofia, nas ciências.” Ou seja, desde sempre, procurou entender, compreender e descobrir a resposta para milhares de perguntas vitais que se formulam. O homem respondeu primeiro com base no empírico, observando tudo o que o cercava, e ali descobriu sua incapacidade de revelar tudo por si só. Muitos estudiosos acreditam que o homo sapiens, o homem assim como é hoje teria desenvolvido em diversos lugares do mundo. Mas a tese mais aceite pelos antropólogos, é que o primeiro homem surgiu na África há cerca de dois milhões de anos atrás.
Ainda segundo Küng, a maioria dos
pesquisadores, com base em convincentes e recentíssimas descobertas, estão
convencidos disso. O homo sapiens da
quente e selvosa África tropical e subtropical, muito provavelmente do Great
Rift Valley siro-africano ao norte da Zambeze. A África é, pois, nossa origem
comum.
O homo sapiens
tornou-se um produtor de formas ao inventar ferramentas que lhe permitiram
ultrapassar a condição comum a todos os viventes, submetendo progressivamente a
seus fins os meios e objetos sobre os quais incidia sua luta pela
sobrevivência. O “salto qualitativo” das formas pré-humanas à forma humana do
trabalho constitui o elo decisivo da hominização: o homo se tornou sapiens ao
se tornar faber. (MORAES, 2011, p. 28).
Nos albores da Pré-História,[2]
dois milhões de anos antes de qualquer cultura escrita, surgiu ali o homo habilis,
o homem que sabia talhar ferramentas de pedra. O Homo habilis surgiu há
cerca de 2,5 milhões de anos e viveu entre o Pleistoceno baixa e média. Nessa
altura, nas regiões tropicais, menos chuva e seca piorou. Os mais importantes
restos fósseis deste hominídeo foram encontrados em:
a) Na Tanzânia (Garganta do Olduvai), onde o casal
Mary e Louis Leakey arqueólogos descobriram o primeiro homo habilis. Este lugar
é tão importante arqueologicamente que é chamado de "berço da humanidade".
b) No Quênia (Koobi Fora), onde encontraram numerosos restos fósseis humanos, entre os
quais o primeiro homo habilis.
c) Na Etiópia (deserto de Afar), o antropólogo Donald Johanson e o estudante Tom Gray descobriram em 1974 o fóssil da Lucy com 3,2 milhões de anos.
Os utensílios mais antigos que conhecemos
foram desenterrados pelo arqueólogo queniano Louis Seymour Bazett Leakey
(1903-1972), no tufo vulcânico da região da garganta do Olduvai e no Quênia, e
com base nas camadas geológicas, ele conseguiu estabelecer sua idade entre 2
120 000 a 2 160 000 anos. Desde então novas descobertas ocorreram. A África
acompanhou os desenvolvimentos dos outros continentes na antiga e média idade
da pedra é o que demonstram instrumentos de pedra cada vez mais aperfeiçoados,
assim como os desenhos rupestres. Na região do Zambeze, tanto as descobertas de
ferramentas quanto aos túmulos permitem acompanhar com clareza o
desenvolvimento do homo habilis, até nosso antepassado direto, o homo sapiens.
Quanto a organização social, Souza (2007, p. 31), afirma que algumas sociedade africanas formaram grandes reinos como O Egito, o Mali, Songai, Axante e Daomé. Outros eram agrupamentos muito pequenos de pessoas que caçavam e coletavam o que a natureza oferecia ou plantavam o suficiente para o sustento da família e do grupo. O) chefe de família, cercado de seus dependentes e agregados era o núcleo básico de organização da África. assim, todos ficavam organizados pela autoridade de um dos membros do grupo, geralmente mais velho e que tinha dado mostras ao longo da vida da sua capacidade de liderança, de fazer justiça, de manter a harmonia na vida de todo dia.
Quanto a organização social, Souza (2007, p. 31), afirma que algumas sociedade africanas formaram grandes reinos como O Egito, o Mali, Songai, Axante e Daomé. Outros eram agrupamentos muito pequenos de pessoas que caçavam e coletavam o que a natureza oferecia ou plantavam o suficiente para o sustento da família e do grupo. O) chefe de família, cercado de seus dependentes e agregados era o núcleo básico de organização da África. assim, todos ficavam organizados pela autoridade de um dos membros do grupo, geralmente mais velho e que tinha dado mostras ao longo da vida da sua capacidade de liderança, de fazer justiça, de manter a harmonia na vida de todo dia.
Para Hans Küng, (2004, p. 39) “foi
certamente a cerca de cem mil anos que o homo
sapiens, começou sua trajetória pelo globo, deslocando os neandertalenses
na Europa e em outros lugares.” Os cientistas também concordam que há cerca de
70 mil anos, sapiens da África Oriental se espalharam na península Arábica e de
lá rapidamente tomaram o território da Eurásia. Quando o Homo sapiens chegou à
Arábia, a maior parte da Eurásia já era ocupada por outros humanos. O que
aconteceu com eles? A teoria da miscigenação conta uma história de atração,
sexo e miscigenação. À medida que os imigrantes africanos se espalharam pelo
mundo, eles procriaram, e as pessoas, hoje, é resultado dessa miscigenação,
resultando assim, na diversificação genética das raças.
Entretanto, é preciso realçar como afirma Küng (2004, p. 39) que, “não se trata de espécies humanas diferentes, mas
sempre do mesmo gênero humano. E embora existam muitas diferenças nas
caraterísticas externas, pode-se admitir que todos nós temos uma origem
africana comum. Por baixo da pele somos todos africanos.” Relativamente a
diversificação racial ou genética, Paulo Guilherme Almeida afirma que:
Essa
diversificação genética, que chamamos diversas “raças” do planeta em todos os
continentes foi estabelecida através de uma série de migrações ao longo de
milhares de anos desde os nossos primeiros ancestrais inteiramente formados
mostra que, em todos os lugares de credos, costumes e “raças” distintas, por
baixo da pele invariavelmente somos iguais. (ALMEIDA, 2006, p. 58).
Para o escândalo dos fundamentalistas, dos
fanáticos ortodoxos e, sobretudo, dos racistas, existem menos diferenças no DNA
de toda a raça humana do que num pequeno grupo de chimpanzés e gorilas. É por
isso que a história da humanidade foi sempre marcada por guerras e perseguições
originadas nas diferenças e nos ódios raciais,
Atualmente, ainda existe um preconceito que
continua sendo difundido: antes das missões e da colonização, os africanos eram
tidos como selvagens. Povos primitivos, grosseiros sem mínima cultura. Puro
engano. Mesmo sem falar das antigas culturas do Egito, da Núbia e da Etiópia, outros
povos africanos também evoluíram. De acordo com Küng (2004, p 43), “os
africanos conseguiram chegar a uma cultura que supera de longe os aborígenes da
Austrália, ou, em certos aspetos, pode mesmo ser comparada à cultura medieval
europeia.” Segundo o mesmo autor:
Do
final do século XII até o final do século XVI, a África passou por um grande
crescimento econômico, politico e cultural: para a África esses foram esses
grandes séculos. A cidade do Grande Zimbábue, por exemplo, como suas gigantes
construções graníticas. Ao sul do Saara não existe nenhum monumento cultural
maior e mais impressionante do que essa antiga capital. (KÜNG, 2004, p. 43).
No final do século XVI, o desenvolvimento
interno da África foi violentamente interrompido pela invasão externa. Foi
nessa altura é que ocorreram estagnação e deformação dos povos africanos devido
à invasão e a exploração levado a cabo pelos europeus. Apesar da missão
evangelizadora e humanitária, essa interrupção do desenvolvimento da África
pelo colonialismo europeu, teve a corresponsabilidade das Igrejas:
[...]
Que as igrejas e as missões aplanaram o caminho para as potencias europeias
chegassem à dominação sobre a África inteira. Ou mesmo que eles legitimaram
apoiaram ideológica e teologicamente o poder imperialista. Só mais tarde que
elas perceberam que isso não poderia continuar. E, aos poucos foram
desvencilhando do colonialismo e se colocando ao lado dos negros em sua grande
luta pela libertação. (KÜNG, 2004, p. 49).
Apesar disso, na história da África
sucederam rápidas mudanças durante o período entre 1880 e 1935. Na verdade as
mudanças mais importantes, mais espetaculares e mais trágicas ocorreram num
lapso de tempo curto, de 1880 a 1910, marcado pela conquista e ocupação de
quase todo o continente africano pelas potencias imperialista e, depois, pela instauração
do sistema colonial. Só em meio à luta de libertação, na década de 1970 é que
as igrejas amplamente hostilizadas pelo sistema colonial distanciaram do
colonialismo e a “africanizar” suas lideranças. Porém, na arte, a africanização
ocorreu mais cedo. Não nos devemos admirar que eles representassem Jesus e os
santos e até Adão e Eva, como negros. Por isso, o nacionalismo africano pode manifestar-se
também na religião. De acordo com Aron Paul, em sua obra Mistérios da história, “isso encaixa com as descobertas dos
biólogos mostrando que a morada primitiva de Eva – digamos o Éden – ficava na
África.” (ARON, 2001, p. 6).
Mesmo com a independência, a África
continua se debatendo com problemas antigos. No prefácio do livro A África na sala de aula de Leila Leite
Hernandez, o escritor Moçambicano, Mia Couto, afirma que: “a África vive uma
tripla condição restritiva: prisioneira de um passado inventado por outros,
amarrado a um presente imposto pelo exterior e, ainda, refém de metas que lhe
foram construídas por instituições internacionais que comandam a economia.”
(HERNANDEZ, 2005). Apesar de todos esses problemas, a África permaneceu em
larga escala em continente religioso. Embora hoje socialmente, a África possa
ser considerada um continente problemático, no futuro podemos vislumbrar um
renascimento africano como aconteceu com a Europa. De acordo com Küng:
A
África, com seus 750 milhões de habitantes, é um continente que tem futuro,
apesar dos imensos problemas, e que está como que a espera do desenvolvimento e
de investimentos [...] Ninguém espera que a cultura tribal se desenvolva
rapidamente, nem que a religiosidade africana tradicional perca toda a sua
importância. Pelo contrário, o pensamento africano e a religiosidade africana
também tem algo a oferecer no futuro. (KÜNG, 2004, p. 53).
Como todos sabemos, e confirmamos ao olhar para as pessoas que formam o povo brasileiro, os negros africanos deram uma contribuição muito importante para o Brasil. Mas, se, se perguntarmo-nos o que esperamos no
futuro como contribuição africana para a ética comum da humanidade, a resposta
mais óbvia é que os africanos contribuirão para a humanidade nos próximos
milênios, através do seu forte senso de comunidade e solidariedade; com sua
alta apreciação dos seus valores e critérios tradicionais; com a sua visão
holística do mundo e do homem, onde há lugar para os jovens e velhos, onde a
tradição e o progresso andam de mãos dadas.
Considerações finais
Desse pequeno resumo de um tema tão
complexo, e investigado por tanta gente, fica-se ciente de que realmente os
seres humanos, independentemente da sua cor da pele, realmente possuem uma
origem comum, justificando assim o título no artigo, ou seja, por baixo da pele somos todos africanos,
uma metáfora que nos ajuda a pensar nossas origens e a entender melhor as
relações étnico-raciais. Com efeito, não há como duvidar dos estudos e das
provas que sustentam a tese de que o nosso antepassado mais distante foi encontrado
na África.
A partir dai demarca-se a dispersão e a evolução
da humanidade, tendo em conta as caraterísticas climáticas, hábitos alimentares,
desenvolvimento biológico (cérebro, postura, etc.). Mas, é preciso ainda
desmistificar a ideia de que a África sempre foi um continente subdesenvolvido,
sem cultura, atrasada em que os povos são selvagens e sem religião. Numa
leitura breve sobre a história da África acabamos verificando que o que é tido
como verdade pelo senso comum, não tem fundamente histórico. Entretanto, reconhecem-se
os problemas que herdamos de uma colonização que durou cinco séculos, e, pelo
trágico processo de descolonização ainda a África enfrenta sérios problemas,
que não teriam surgidos se a África não tivesse sido colonizada pelas grandes
potencias europeias.
Sem ter a pretensão de mudar o rumo da história, podemos, entretanto, pensar em superar alguns dos nossos problemas fundamentais que ajudam a perpetuar-se as desigualdades, como o preconceito contra os negros. Como vimos, estes se ligam diretamente ao nosso passado, no qual os africanos eram considerados seres inferiores, primitivos, incapazes de construir civilizações evoluídas como as europeias, porem quem conhece um pouco sobre a história da África e dos africanos, sabe que não é tão bem assim. Na África também havia sociedade evoluídas que chegaram a formar reinos como o Egito, O mali, Songai, Oió, Axante e Daomé.
PARA OBTER O ARTIGO EM PDF, CLIQUE AQUI:
https://www.academia.edu/30948574/Por_baixo_da_pele_somos_todos_africanos
Sem ter a pretensão de mudar o rumo da história, podemos, entretanto, pensar em superar alguns dos nossos problemas fundamentais que ajudam a perpetuar-se as desigualdades, como o preconceito contra os negros. Como vimos, estes se ligam diretamente ao nosso passado, no qual os africanos eram considerados seres inferiores, primitivos, incapazes de construir civilizações evoluídas como as europeias, porem quem conhece um pouco sobre a história da África e dos africanos, sabe que não é tão bem assim. Na África também havia sociedade evoluídas que chegaram a formar reinos como o Egito, O mali, Songai, Oió, Axante e Daomé.
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https://www.academia.edu/30948574/Por_baixo_da_pele_somos_todos_africanos
Referências
ALMEIDA,
Guilherme Paulo. A jornada do espírito.
1ª edição. Editora: Ibrasa, 2006.
ARON,
Paul. Mistérios da história: uma
investigação reveladora sobre os acontecimentos mais intrigantes de todos os
tempos. 1ª edição. Editora Manole. Barueri, SP, Brasil, 2001.
HERNANDEZ,
Leila Maria Gonçalves leite. A África na
sala de aula: visita à história contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005.
História geral da África, VII: África sob
dominação colonial, 1880, 1935/ citado por Albert Adu Boahen. – 2ª edição -
rev. Brasília: UNESCO, 2010.
KUNG,
Hans. Religiões do mundo: em busca de
pontos comuns. Tradução de Carlos Almeida Pereira. – Campinas, SP: Versus
Editora, 2004.
MORAES
João Quartim de. O humanismo e o homo
sapiens. Artigos crítica marxista. 2011.
SOUSA, Maria Mello e. África e Brasil africano. 2. ed. - São Paulo, Ática, 2007.
SOUSA, Maria Mello e. África e Brasil africano. 2. ed. - São Paulo, Ática, 2007.
[1]
Mestre em Ciências da Religião – (PUC-SP) Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo; Pós-Graduado em Administração, Supervisão e Orientação Pedagógica e
Educacional – (UCP) Universidade Católica de Petrópolis; foi aluno
extraordinário do curso de Pós-Graduação em Filosofia da (PUC-Rio) Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro; Licenciado em Filosofia – (UNI-CV) -
Universidade Pública de Cabo Verde; Formado em Pedagogia (curso Inicial de
formação de professores do EBI) - Instituto Pedagógico do Mindelo.
[2]
A Pré-História corresponde ao período que vai do surgimento do homem primitivo
(hominídeo) até a invenção da escrita. O termo Pré-História tem sido criticado,
pois pode sugerir que o homem desse período não deva ser incluído na história.
Ora, o homem, desde seu aparecimento, é um ser histórico, ainda que ele não
utilizasse a escrita. Outras expressões foram propostas para denominar os povos
sem escrita, como: povo pré-letrado, povo ágrafo etc. O emprego dessas
expressões, entretanto, não se generalizou. Como o termo Pré-História é de uso
universal, vamos também empregá-lo, mas conscientes de que esse período integra
a história, em sentido amplo.
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