Primeiro,
as perguntas epistemológicas
Antes de tudo, nossa tarefa aqui é esclarecer o
que se tem em mente quando se usa a expressão algo ambiciosa “Estatuto
Epistemológico da Ciência da Religião”. Não falamos aqui tanto em
“epistemologia” como disciplina e teoria geral do conhecimento, mas mais
propriamente como “teoria da ciência”, pois muito do que está em jogo diz
respeito ao como praticar uma Ciência da Religião.
Basicamente
procura-se uma resposta para questões tais como: O que permite dizer-se que a
Ciência da Religião é uma ciência? Trata-se de uma ciência, ou de várias
ciências coligadas? Ela é uma disciplina autônoma, que merece seu lugar na
academia? E, seu objeto, “religião”, também é único e original, ou é múltiplo e
derivado? E como a Ciência da Religião se diferencia de outras disciplinas,
principalmente a Antropologia da Religião e a Teologia? É parte das
“humanidades”, ou é uma ciência em sentido mais estrito, seguindo alguns
padrões das Ciências Naturais?
Destaque-se
aqui o papel da teoria (e há muitas em Ciência da Religião) para que se possa
encaminhar a discussão do que está em jogo em tais perguntas. Da teoria pode-se
dizer que é uma imagem operacional de um aspecto da religião. Digo operacional
porque não se trata de uma imagem pictórica ou um modelo (mais sobre ele a
seguir) ou ainda uma visão de mundo. Ela precisa operar sobre um conjunto de
fenômenos (quanto mais abrangente, melhor), fornecendo explicações coerentes e
falsificáveis. É através delas que se permite responder: o que é conhecido,
como se conhece, e se de fato há um conhecimento, isto é, se as hipóteses são
verdadeiras e se se referem objetivamente a algo do que chamamos de realidade.
Parte
da resposta (se é que podemos chamar assim) a essas questões decorre de se
narrar a própria história da disciplina, mais que centenária. O capítulo de
Frank Usarski deste Compêndio já cobre muito do que é relevante para a presente
discussão, e assim podemos partir de um momento na história de nossa disciplina
que marcou toda a discussão posterior, inclusive em nossos dias: a figura, a
obra e as propostas metodológicas de Mircea Eliade.
CRUZ, Eduardo A. "Estatuto epistemológico da Ciência
da Religião."PASSOS, João (2013).
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