[...] Devido às preferência individuais a respeito do escopo e o caráter da matéria, do seu estatuto epistemológico e das suas funções acadêmicas e extra-acadêmicas, não surpreende que o debate tenha trazido um consenso sobre todos os pormenores da necessária adaptação curricular da disciplina oferecida para os candidatos de mestrado. Porém, contribui para verificar uma unanimidade pelo menos sobre os seguintes cinco aspetos intimamente inter-relacionados:
- 1) Encontra-se uma variedade de nomenclaturas da disciplina. Dependendo da opção pelo singular ou pelo plural das constituintes da denominação, usa-se em diferentes contextos um dos quatro rótulos possíveis: ciências da religião, ciência da religião, ciência das religiões, ciência das religiões. Entretanto essa heterogeneidade pode ser relevante para a apresentação externa da disciplina em seus respetivos ambientes, ela não atinge o consenso de seus representantes sobre a estrutura interna da matéria. Pelo contrário, há unanimidade sobre seu caráter "pluralista", no sentido de uma abordagem "poli-metodológica";
- 2) Tal pluralidade interna não é um sintoma de falta de reflexão metateórica sobre a disciplina ou de desinteresse por sua autonomia institucional, mas uma consequência da complexidade, ou seja, da multidimensionalidade do seu objeto;
- 3) A ciência da religião mostra sua competência em liderar com tal riqueza fenomenológica na medida em que atua como uma "ciência integral das religiões" que se constitui mediante um intercâmbio permanente com outras disciplinas cujo saber específico contribui dieta ou indiretamente para um saber mais profundo e completo sobre a religião e suas manifestações múltiplas;
- 4) A futura prosperidade da ciência da religião depende não apenas da dinâmica entre ela e suas matérias auxiliares "aprovadas" e disciplinas de referência tradicionais, mas também de sua abertura contínua aos discursos inovadores em área de pesquisas até então negligenciadas;
- 5) A riqueza do material relevante promovido tanto por esforços interdisciplinares quanto pela referência a suas subdisciplinas e disciplinas auxiliares requer do cientista da religião a disponibilidade de submeter seu trabalho individual a uma dinâmica coletiva conforme o princípio da divisão de trabalho organizado de acordo com as especialidade individuais e em função da produção de um conhecimento integrado [...]
USARSKI, Frank. O espectro disciplinar da ciência da religião/ Frank Usarski (org). - São Paulo: Paulinas, 2007.- (Coleção repensando a religião)
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