Em sua obra Nova era: a nova civilização planetária; desafios à sociedade e ao cristianismo, Leonardo Boff faz uma comparação entre os dois paradigmas da modernidade, ou seja, o capitalismo e o socialismo, demonstrando assim, que ambos fracassaram...
Segundo ele, o paradigma da modernidade se expressou em dois sistemas sociais antagônicos: o capitalismo e o socialismo.
o capitalismo privatizou os bens e socializou os sonhos. O socialismo socializou os bens e privatizou os sonhos. ou seja, o capitalismo privatizou os bens (as fábricas, terras, bancos são propriedades privadas), mas deixou que os sonhos pudessem se exprimir por todos os meios de comunicação social, especialmente pela propaganda e pela televisão. Quer dizer, permite a socialização dos sonhos. Apenas cuida para que os sonhos se realizem dentro dos limites impostos pelos interesses do capital. Numa favela pode faltar pão, mas não o aparelho da televisão. Esta alimenta os sonhos pelas propagandas, pelas novelas, e pelas imagens falantes.
O socialismo socializou os bens, as terras, as fábricas, a educação. Mas privatizou os sonhos. Somente eram aceites os sonhos sonhados pelo partido único ou que estivesse em concordância com o único sonho socialista. Todos os demais sonhos eram reprimidos e perseguidos.
Hoje, podemos fazer um balanço. O socialismo fracassou. Impedindo os sonhos, impediu a liberdade, a criatividade e assim destruiu o senso humanitário. Implodiu.
O capitalismo permite os sonhos. Os sonhos mesmo falaciosos, sustentam a esperança e prolongam a vida. por isso, ele continua. Mas, os sonhos ficaram só no imaginário...
Por isso, também ele não resolveu nenhum problema que o socialismo propunha a se resolver. Antes pelo contrário: os problemas se agravaram a nível mundial. Há hoje mais problemas e mais pobreza e mais violência generalizada do que há cinco anos, tanto nos países ricos quanto nos países empobrecidos.
Qual a suprema ironia? depois de quinhentos anos, o sonho de desenvolvimento provocou subdesenvolvimento da maioria dos países do mundo. A dominação da natureza provocou sua rebelião ameaçando, pela poluição, pelo buraco do azônio e por outros desequilíbrios ecológicos, a vida das pessoas e outras espécies vivas.
O capitalismo criou uma cultura do eu sem nós. O socialismo criou uma cultura do nós sem eu. Agora precisamos da síntese que permite a convivência do eu com o nós. Nem individualismos nem coletivismos, mas democracia social e participativa. Precisamos fazer uma autocorreção com referência a concepção de ser humano, à integração do feminino e à aliança com a natureza. Daí, pode nascer a nova espiritualidade e o fio que tudo re-liga.
Fonte: BOFF, Leonardo. Nova era: a nova civilização planetária; desafios à sociedade e ao cristianismo. São Paulo: Ática, 1994.
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