OLIVEIRA, Adriana Maria Ramos de. Entre idas e vindas: o pós-morte nas religiões. Revista Senso. 06 de janeiro de 2020.
"Tendo em vista que a morte é uma questão pertinente na história da humanidade e de sua relação com o surgimento do pensamento religioso, vamos procurar entender sobre como algumas das maiores e mais difundidas religiões do mundo lidam com esse assunto. Para tal explicação serão utilizados alguns exemplos de práticas de como essas religiões abordam a morte; o sepultamento; a concepção de vida após morte e ressurreição.
O renascimento dos mortos, ou a ideia de ressurreição, que significa literalmente “levantar, erguer”, marca definitivamente uma crença acerca da vida após a morte. Esta concepção é considerada como base de uma das religiões mais disseminadas no ocidente; o cristianismo, na qual Jesus, segundo os textos bíblicos, ressuscitou pessoas e ressurgiu dos mortos. Vale lembrar que a ideia de ressurreição é diferente da de reencarnação, pois implica que a pessoa regressa à vida como a mesma, enquanto que na segunda opção, a pessoa retorna com outra vida e corpo físico. O sepultamento cristão tende ser composto por um prolongado ritual de velamento do corpo, seguido por homenagens e despedidas dos familiares e amigos. Para os cristãos a vida é eterna, se estendendo, portanto, após a morte.
No judaísmo, a morte é encarada como algo natural e não trágico, os judeus compreendem que a alma sobrevive mesmo com a morte corpórea; o ritual fúnebre deve ser simples e rápido seguindo um padrão: o caixão deve ser de madeira, forrado com um pano preto, estampando a estrela de Davi. Devem ser iguais para remeter que a morte iguala todos.
Na religião do Islã ou islamismo, os muçulmanos creem e defendem que como o nascimento, a morte também está nas mãos de Deus; seu rito fúnebre se dá pela lavagem do cadáver de três a cinco vezes, começando pelo lado direito, para devolver pureza à alma. Esta prática é feita por parentes e familiares do mesmo sexo do falecido. O corpo é perfumado com cânfora e coberto por um sudário (lençol, mortalha) branco.
Dentro do hinduísmo, é predominante a concepção de reencarnação, importante para sanar o Karma, que consiste na ideia de que a vida na terra é parte de um ciclo de nascimento, morte e renascimento, para aperfeiçoamento e evolução espiritual. Para tal efeito, a alma volta várias vezes (quantas forem necessárias) à vida até se libertar deste ciclo. Quando alguém falece, iniciam-se rituais para desprender a alma do corpo, que geralmente é cremado, para que ela encontre nova casa – um corpo humano ou de animal, de acordo com o comportamento na vida anterior – causa e efeito. O corpo do falecido é posicionado com a cabeça virada para o sul, é lavado, untado com pasta de sândalo e vestido com boas roupas.
A morte não é compreendida como um evento isolado no budismo, mas sim tida como uma mudança de ciclo, ela é uma realidade natural. Portanto os budistas encaram a morte como algo a ser aceito. Em seu ritual fúnebre o budista tem o rosto coberto com um pano branco, e incensos são acesos à sua volta.
Para as religiões afro-brasileiras, como a umbanda, por exemplo, a morte corpórea não significa o fim da vida. É tida apenas como o fim de um ciclo, ou seja, passagem encarnatória . Após a morte física do homem, segundo a crença predominante nesta tradição, este será encaminhado para uma esfera espiritual condizente com seus atos e vibração emocional acumuladas durante a passagem no corpo físico.
O funeral umbandista é dividido em partes; na primeira ocorre a purificação do corpo e do espírito, que ocorre somente com a presença do sacerdote, na segunda é feita a cerimônia social para encomenda do espírito, realizada no velório e no túmulo.
Como é notória a relação vida e morte, a crença na vida após a morte se faz presente nas mais variadas tradições religiosas, sociedades e períodos históricos da humanidade".
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