Dados
bibliográficos do texto:
ENGLER, Stven[1]; STAUSBERG, Michael[2]. Metodologia em Ciência da Religião. In. Compêndio de Ciência da Religião/ João Décio Passos, Frank Usarski, (Organizadores). – São Paulo: Paulinas, 2013.
Engler e
Stausberg, iniciam o texto, clarificando os conceitos de método e metodologia.
a)o primeiro é definido como técnicas
para reunir e analisar dados de uma pesquisa, científica ou acadêmica;
b)o segundo refere-se tanto às questões
técnicas quanto aos métodos, incluindo a teoria e a conceituação dos métodos.
Negligência dos métodos em Ciência da Religião
Os autores iniciam o texto com uma forte
crítica, classificando de vergonhosa a falta ou ausência de reflexão que a Ciência
da Religião, tanto no Brasil como no mundo, tem dedicado aos métodos e as
metodologias. Segundo eles, essa falta de reflexão resulta do fato da Ciência
da Religião, ser uma disciplina plurimetodológica. Mas, nesse caso eles
identificam dois problemas:
a) todas as ciências humanas são plurimetodológica;
b) o fato de usar vários métodos deveria ser motivo para prestar mais atenção, à metodologia e não menos.
O ideal para eles é que houvesse por
parte dos pesquisadores e estudantes um profundo interesse na metodologia e no
aprofundamento dos métodos, mas, segundo eles, acontece exatamente o contrario,
uma vez que, o uso dos métodos em Ciência da Religião continuam sendo ingênuos e uniformes.
Métodos
Os métodos possuem duas funções:
a)ajudam a analisar a realidade;
b)produzem os dados que devem ser analisados.
Por
isso, vale ressaltar que:
a)alguns métodos são mais úteis do que outros;
b)alguns são mais produtivos do que outros;
c)todos impõem perspectivas limitadas;
d)o uso de um método específico não garante êxito;
e)os métodos não são imunes à criticas;
f)não são a única forma de obter conhecimento válido;
g)devem favorecer espaço para criatividade e novas perspectivas;
Algumas questões-chave da metodologia
Nesse tópico os autores propõem
abordar várias questões metodológicas.O primeiro sentido de metodologia
incorpora vários significados:
a)esboço da pesquisa;
b)relações e tensões entre métodos qualitativos e quantitativos;
c)seleção de métodos;
d) Meios de validar os resultados de uma pesquisa.
1.A
elaboração do esboço de uma pesquisa deve-se levar em conta:
a) identificar a pergunta ou o problema de pesquisa;
b) fazer a revisão da literatura relevante;
c)escolher o método a ser aplicado (quantitativo, qualitativo, misto);
d) especificar os métodos de coleta de dados;
e)procedimentos com recursos logísticos;
f) avaliação dos valores dos resultados;
g)identificação de potenciais problemas éticos;
h)planejamento para disseminação dos resultados.
2. Métodos quantitativos e qualitativos
O debate mais importante relativamente
à metodologia tem sido em torno da distinção entre esses dois métodos.
a)os métodos quantitativos empregam a medição numérica; (pouco populares entre os cientistas das religiões);
b)os qualitativos visam à qualidade (entrevistas abertas, grupos de discussão ou técnicas de observação de participantes).
Esses
dois métodos são de valores relativos:
a)os que preferem os métodos qualitativos, argumentam que certas coisas não são perceptíveis à medição
b)os que preferem os métodos qualitativos criticam a natureza subjetiva do trabalho qualitativo.
Entretanto, na prática é possível
(combinar) ou sobrepor esses dois métodos, e, desta forma obtêm-se os métodos mistos, que é a combinação
dos métodos quanti e quali.
A distinção entre esses métodos é útil
para distinguir tendências e perspectivas quanto ao interesse e estratégia de
pesquisa:
a)os métodos quantitativos focalizam mais a precisão e os qualitativos, a riqueza de detalhes;
b)os quantitativos buscam a generalização e os quantitativos a descrição;
c)a pesquisa quantitativa é mais estruturada enquanto que a qualitativa é mais flexível.
3.Critérios
de excelência
Existem três critérios para avaliar a
qualidade dos dados de uma pesquisa:
1.confiança – coerência ou estabilidade de um conjunto de dados.
2.validade – extensão de um indicador reflete os conceitos para os quais foi projetado.
3.generalizabilidade – aplicabilidade dos resultados além da amostra específica de um estudo.
A pesquisa científica distingue várias
formas diferentes de confiança e validade. Esses conceitos levam a questões
importantes:
a)quanto à confiança pode-se perguntar [ ver p. 66, 2ª coluna];
b)quanto à validade pode-se perguntar [ ver p. 66, 2ª coluna];
Existem também, várias estratégias
para vigiar e validar pesquisas:
a)comunicação científica (apresentação em congressos e publicação de artigos);
b)apresentação dos resultados aos sujeitos da pesquisa;
Pode ser usada para:
a) Corroborar
os resultados da pesquisa;
b) Realçar
reflexões sobre o próprio processo de pesquisa.
Desvantagem:
A
corroboração pode não ser suficiente para validar a pesquisa. (os sujeitos
podem não entender a terminologia e o modo do discurso acadêmico, falta de
tempo para ler textos longos e complexos).
c)triangulação – uso de mais de um método ou mais de
uma fonte de materiais empíricos em um estudo.
Apesar da importância desses conceitos
para a validação de uma pesquisa, elas foram submetidas a muitas críticas nos
últimos anos principalmente pela:
a)associação implícita com as visões positivistas da ciência e da metodologia;
Outras
visões da ciência invocam outros critérios para avaliar uma pesquisa:
a)visão construtivista – apontam para a credibilidade, autenticidade e o potencial para a confirmação e a transferência dos resultados;
b)a visão étnica ou feminista – apontam para a responsabilidade, respeito, diálogo ou flexibilidade.
Dados, teorias e métodos
Segundo os autores, a reflexão sobre
metodologia também tem outro sentido, o mais “filosófico” ligadas à discussões
técnicas na filosofia da ciência e na epistemologia. Uma lição fundamental da
vertente filosófica da metodologia é que os dados e a teoria estão
relacionados.
A epistemologia pós-positivista coloca
em dúvida a distinção entre sintético e analítico, observacional e teórico. Os estudiosos qualitativos preferem o
termo “materiais empíricos” à “dados” rejeitando o legado positivista desse
conceito. O positivismo distinguiu entre dados interpretados e “dados brutos”, mas essa distinção foi rejeitada pelos críticos filosóficos.
Ao falar de dados para a religião
Smith sugere que há algo de especial:
1. primeiro: não existem dados brutos em caso algum;
2.segundo: não existem dados especificamente religiosos, pois, a religiosidade existe independentemente das nossas operações acadêmicas.
A teoria desempenha um papel diferente
em esboços de pesquisas diferentes, o que influencia o papel dos métodos.
a) em um extremo fica o modelo científico; (conjunto de afirmações constantemente testadas e revisadas pela verificação falsificatória) – [Karl Popper].
O experimento é o método clássico desse tipo de interrogação enquanto que sondagens e outros métodos qualitativos tem função análoga em Ciências Sociais.
b) em outro o modelo de construção de teorias: constrói teorias, conceitos categorias em uma interação dinâmica entre coleta e análise de dados.
O grande problema em Ciência da Religião é que
muitos projetos selecionam seus materiais empíricos não devido a uma questão
teórica, mas pelo mero interesse do estudante ou especialista. O interesse do
pesquisador vem em primeiro lugar, o que torna o assunto como digno de atenção
acadêmica. Nesses casos a relevância teórica é aposteriori.
Receita: escolha um caso; uma teoria; acrescente um pouco de
retórica.
Porém, o caso é muito diferente quando
reconhecemos a interação complexa entre teoria, métodos e dados e desempenha um
papel básico na:
a) escolha inicial do método;
b) construção de categorias;
c) orientação de cada passo na pesquisa.
Concluindo, os autores afirmam que é
pelos métodos que os dados e as teorias comunicam mutuamente e compartilham um
horizonte interpretativo. A falta de reconhecimento de papel mediador talvez
seja outra razão da negligencia da metodologia na Ciência da Religião.
[1] Natural do Canada, Engler é Professor de Estudos Religiosos
da Universidade Mount Royal. Conduz várias pesquisas relativamente ao
catolicismo popular, a Umbanda, o Espiritismo Kardecista e as religiões
relacionadas à incorporação de espírito no Brasil, bem como teorias e
metodologia no estudo das religiões. Entre 2005 e 2007, foi Professor Visitante
no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP), atualmente é Professor Colaborador.
[2]
Natural da Alemanha, Stausberg, é professor da Universidade de Bergen, Noruega
Estudou em Bonn, Tübingen, Bergen e Roma. Os interesses de Stausberg abrangem a
história e ao estudo científico da religião, ritual e ritual e da religião e do
turismo moderno.
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