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sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Um deus que sorri


Por Rubem Alves


Eu acredito em Deus! Mas não sei se o Deus em que eu acredito é o mesmo Deus em que acredita o balconista a professora o porteiro o bispo ou pastor… O Deus em que acredito não foi globalizado. O Deus com quem converso não é uma pessoa não é pai de ninguém. É uma ideia uma energia uma eminência. Não tem rosto portanto não tem barba. Não caminha portanto não carrega um cajado. Não está cansado portanto não está sempre no trono. O Deus que me acompanha vai muito além do que me mostra a Bíblia. Jamais se deixaria resumir por dez mandamentos algumas parábolas e um pensamento que não se renova. O meu Deus é tão superior quanto o Deus dos outros mas sua superioridade está na compreensão das diferenças na aceitação das fraquezas e no estímulo à felicidade. O Deus em que acredito me ensina a guerrear conforme as armas que tenho e detecta em mim a honestidade dos atos. Não distribui culpas a granel: as minhas são umas as do vizinho são outras. Nossa penitência é a reflexão. Para o Deus em que acredito só vale o que se está sentindo. O Deus em que acredito não condena o prazer. O Deus em que acredito não me abandona mas me exige mais do que uma flexão de joelhos e uma doação aos pobres: cobra caro pelos meus erros e não aceita promessas performáticas como carregar uma cruz gigante nos ombros. A cruz pesa onde tem que pesar: dentro. É onde tudo acontece e este é o Deus que me acompanha: Um Deus simples. Deus que é Deus não precisa ser difícil e distante sabe tudo e vê tudo. Meu Deus é discreto e otimista. Não se esconde ao contrário aparece principalmente nas horas boas para incentivar para me fazer sentir o quanto vale um pequeno momento grandioso: de um abraço numa amizade uma música na hora certa um silêncio. O Deus que eu acredito também não inventou o pecado ou a segregação de credo. E como ele me deu o Livre-Arbítrio sou eu apenas que respondo e responderei pelos meus atos.

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