Pesquisar neste blogue

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

FILOSOFIA DA RELIGIÃO


PAINE, Scott Randall. Filosofia da religião. In: Compêndio de Ciência da ReligiãoJoão Décio Passos, Frank Usarski (Org.). – São Paulo: Paulinas: Paulus, 2013. 



                            Slidshare:




Dados biográficos

Professor e pesquisador associado da Universidade de Brasília, com estudos na Universidade de Chicago (1970-71), possui graduação em Latim e Literatura Latina pela Universidade de Kansas (1974), Graduação em Filosofia e Teologia, Mestrado (1982) e doutorado (1988) em Filosofia pela Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino. Experiência nas áreas de Filosofia, Teologia e Ciências da Religião, com ênfase em Filosofia Medieval, Filosofia Oriental, Metafísica, Teologia e Filosofia Comparadas. Pesquisador visitante na Universidade Nacional de Cingapura em 2007 e no Centro para o Estudo das Religiões Mundiais da Universidade de Harvard em 2013.

INTRODUÇÃO

ü  A FILOSOFIA DA RELIGIÃO não surgiu do dia para a noite, foi um processo onde é possível identificar caminhos [paralelos – divergentes – convergentes].

ü  O objetivo desse artigo é examinar a relação histórica e problemática entre RELIGIÃO e FILOSOFIA que deram origem a FILOSOFIA DA RELIGIÃO:

1.    No PRIMEIRO momento - reflete sobre a complexa realidade conceitual de cada termo, mostrando a dificuldade na definição objetiva de cada um;
2.    No SEGUNDO momento - investe na procura dos antecedentes da filosofia da religião;
3.    No TERCEIRO momento - aborda a filosofia no mundo anglo-saxão; seguida da filosofia continental da religião;
4.    E, finalmente faz uma análise sobre a filosofia comparada da religião e a filosofia da religião no Brasil. 

Seu surgimento da remonta dois fatos históricos:
Estudo não confessional da religião a partir do século XVIII; em perspectiva histórica, linguística, antropológica, sociológica e psicológica;
Surgimento de novos estudos de religiões pouco conhecidas;

Na filosofia contemporânea ressurge o interesse reanimado:
 pela crença e fenomenologia da experiência e linguagem religiosas;
Pelo problema do mal e da liberdade humana;
Pelos argumentos sobre a existência de Deus ou não.

ORIENTAÇÕES CONCEITUAIS

Para o autor a Filosofia da Religião se estrutura em torno de quatro eixos:
Ø  Discussão da existência e natureza de Deus ou de algo transcendente;
Ø  A justificativa da crença, a experiência religiosa, a mística e os milagres;
Ø  O problema do mal e do livre arbítrio;
Ø  As estruturas religiosas, cognitivas, morais e rituais, ou o credo, o código e o culto.

ANTECEDENTES DA FILOSOFIA DA RELIGIÃO

Ao relacionarmos os conceitos de FILOSOFIA e RELIGIÃO, podemos elencar três tentativas, a saber:

1.    Filosofia é Religião (identidade), ou seja, uma aproximação semelhante a uma fusão;
         Pode ser identificada de duas formas:

ü  Em certas correntes do budismo, do neoplatonismo, no positivismo comteano e nas formas pragmáticas do marxismo;
ü  Correntes religiosas que reclamam somente à revelação ou a uma intuição mística, todos os direitos de conhecimento fidedigno acessível ao homem.

2.    Filosofia e Religião (paralelismo), saberes distintos e inconfundíveis, tanto no método quanto no conteúdo;

          Os dois conceitos afastam um do outro:
ü  Distinção e distância estabeleceram-se como caraterísticas dessa relação;
ü  Ambas costumam ser vistas como inconfundíveis tanto no método quanto no conteúdo.
2.    Filosofia na Religião (teologias e metafísicas religiosas), a cooperação entre ambas gerou grandes teologias.
ü  a cooperação entre ambas, no Ocidente gerou grandes teologias, (cristianismo, Judaísmo e Islã).


FILOSOFIA DA RELIGIÃO

No mundo moderno, a Filosofia começou a ter a Religião como objeto de reflexão e aponta três razões.
 
ü  Primeiro: no século XV – Cisma da cristandade entre Oriente e Ocidente; surgimento de denominações protestantes; a religião deixou de ser identificada com uma única igreja;
ü  Segundo: a chegada de novas fontes de informação sobre o oriente no século XVII através dos Jesuítas.
ü  Terceiro: surgimento das ciências modernas: ataques ao pensamento religioso/teológico levaram ao amadurecimento da reflexão sobre a origem desse fenômeno.

Nos séculos XVI e XVII, vários pensadores tentaram estudar a religião enquanto tal, com um olhar filosófico, mas com pouco impacto.

Exemplos:
ü  Jean Bodin (séc. XV);
ü  Pedro Abelardo, Raimundo Lulio (séc. XIII);
ü  Nicolau de Cusa (séc. XV).
ü  No século seguinte H. Cherbury, publicou suas Cinco noções comuns, que ofereceram outro caminho pela formulação de teses abstratas e universais.

Outras interpretações tentaram dar um valor aos pormenores da crença:
ü  Bernard Fontenelle (séc. XVIII) sugeriu que a religião como uma espécie de protociência [esforço racional], mas da parte de pessoas não instruídas pela ciência moderna;
ü  Giambattista Vico (séc. XVIII) valorizava o aspecto poético e imaginativo caraterístico das religiões como válida, mas, não valorizada de conhecimento...

Com David HUME e outros filósofos do séc. XVIII - questões sobre religião começaram a universalizar com um viés mais crítico.

      Para ele:
 ü  Os milagres não merecem crença da parte do homem;
ü  Os argumentos sobre a existência de Deus eram refutáveis;
ü  A origem da religião seria atribuível a projeções de agência humana em poderes da natureza ainda não conhecidos cientificamente.
  
ü  Um século depois [XIX], MARX afirmará que “a crítica da religião é a pré-condição de toda a crítica futura” [...]
ü  LEIBNIZ [vê a religião com bons olhos] – escreveu em 1710 um Discurso preliminar sobre a conformidade da fé com a razão;
ü  No final do século KANT daria um valor positivo à religião [o instinto moral humano pode explicar o surgimento das crenças, que serviriam como defensores da moral]:

Em KANT, a redução da religião à moral teve como meta transformar o ser humano e não apenas no agir.

HEGEL e COMTE integram a religião nos seus sistemas filosóficos:
ü  No primeiro caso, etapa necessária para o idealismo hegeliano, como estágio de emergência do Espírito Absoluto;
ü   No positivismo comteano, como etapa separada no progresso rumo a formulação do positivismo como a religião da humanidade. 
ü  SCHLEIERMACHER valoriza a religião positivamente, mas de maneira não teórica.

Obs: enquanto KANT pretendeu explicar a religião deixando os fatos religiosos concretos desprovidos de interesse, HEGEL, COMTE e SCHLEIERMACHER, valorizaram os fenômenos particulares, fazendo de um filosofar sobre a religião uma autentica Filosofia da Religião.

FEUERBACH, KIERKEGAARD, FREUD, MARX, ambos a sua maneira refletem sobre o “fenômeno”:

ü  FEUERBACH – vê no cristianismo, uma filosofia do homem, ou seja, algo integral à realidade humana que requer reflexão. 
ü  KIERKEGAARD - interpretará os paradoxos e aparentes contradições do Cristianismo como estratégias divinas para desarmar a ignorância humana.
ü  FREUD e MARX – vêm na religião não apenas só doença ou narcótico, mas algo rico e cheio de conteúdo intelectualmente estimulante, embora as interpretações sejam divergentes.

Fora do mundo acadêmico, os filósofos como GUÉNON COOMARASWAMY [perenalistas] avançam a Tese de uma FILOSOFIA PERENE, presente em todas as tradições religiosas, que incentivou obras relevantes para a FILOSOFIA DA RELIGIÃO.
  
ü  Em meados do século XX, identifica-se duas tendências que levaram o filósofo acadêmico a se ocupar da religião.
ü  Primeira: reanimação de algumas problemáticas epistemológicas e até metafísicas que a Filosofia acadêmica havia tentado aposentar, mas, sem êxito;
ü  Segunda: nova atenção proporcionada à riqueza e diversidade do fenômeno religioso, provindo das ciências sociais e da religião comparada.

A relevância desses estudos chegou à tona graças aos estudos sobre filosofia Oriental. A íntima relação entre Religião e Filosofia fez com que a FILOSOFIA DA RELIGIÃO recebesse bastante atenção.

  Além disso, ainda podemos citar:

ü  Interesse crescente na Filosofia mundial (Sabedoria indígena, por exemplo);
ü  Interesse na Fenomenologia da Religião através dos teólogos OTTO, VAN DER LEEUW, MAX SCHELER e ELIADE.
ü  MAS, o termo FILOSOFIA DA RELIGIAO fez sua estreia acadêmica com o filósofo platônico Ralph Dudworth (século XVII) ganhando nomenclatura na última década do século XVIII.
ü  Na segunda metade do século XX despertou mais interesse de pesquisa e publicação, pois, os filósofos começaram a abrigar-se nos departamentos de Filosofia.


FILOSOFIA DA RELIGIÃO NO MUNDO ANGLO-SAXÃO

A corrente de FILOSOFIA DA RELIGIÃO mais ativa no início do século XXI nasceu na linhagem de uma escola histórica anti-metafísica e antirreligiosa: O POSITIVISMO LÓGICO.

ü  Não que o conhecimento religioso metafísico fosse falso, mas carecia de sentido.

Como é que desse contexto pouco promissor surgiu a manifestação mais vigorosa de FILOSOFIA DA RELIGIÃO no mundo acadêmico?

ü  Foi graças a WITTGENSTEIN. Sua obra Tratactus logico-philosophicus (1921) é vista como uma declaração de independência do cientificismo para o CÍRCULO DE VIENA e do POSITIVISMO LÓGICO. 

ü  Ele declarou assuntos metafísicos e religiosos além do alcance da linguagem empiricamente verificável e de interesse zero para a filosofia, porém, anos depois, rejeitou a teoria da linguagem do seu Tratactus e abraçou a visão de “jogos de linguagem” como a maneira que vários sentidos fora da ciência podem construir sentidos religiosos. 

Outros estudiosos, a partir de 1950 abriram portas para a “linguagem ordinária” e começaram a estudar a linguagem religiosa, assuntos metafísicos, epistemológicos e moral ligados à religião.  

ü  A Filosofia da Religião tem se dedicado a assuntos relevantes a saber:
ü  A coerência da ideia de deus e provas para a sua existência;
ü  A epistemologia da fé e a experiência religiosa;
ü  O problema do mal.

Na discussão das demonstrações sobre a existência de Deus:

ü  SWINBURN sugere que apesar da insuficiência das provas ontológicas, cosmológicas, teológicas e morais, vistas em conjunto constituem um elemento de alta probabilidade; 

ü  Outra prova é aquela apresentada pelos seguidores da “epistemologia reformada” de CALVINO, que defenderam o caráter básico pré-argumentativo da crença em Deus, e, por isso, nem precisa de provas para justificar;  

ü  PLANTINGA completa sua defesa da racionalidade da crença em Deus atacando o naturalismo ontológico. Ele tira a possibilidade de confiar que o aparato cognitivo humano torna possível teorias verdadeiras e não meramente úteis para a sobrevivência.

Vários filósofos analíticos da religião tem desmentido acusações de uma irracionalidade, mostrando que quando uma crença não pode ser provada racionalmente, no entanto pode ser razoável aceita-la.
ü  Geralmente esses pensadores são tidos como CRIPTOAPOLGETAS do Cristianismo, por terem se juntado a pensadores religiosos dos séculos XVII e XVIII [...]

Outra FILOSOFIA DA RELIGIÃO vem de teólogos inspirados por WHITEHEAD que tentam eliminar o escândalo do MAL pela negação da onipotência divina e a insistência em um Deus imanente. 

ü  Novos modelos através da Biologia Evolucionista estão em discussão desde o inicio do século, mas é muito cedo para avaliar o papel que terão a longo prazo.


FILOSOFIA CONTINENTAL RELIGIÃO  
           
ü  Embora a fronteira entre a FILOSOFIA ANGLO-SAXÃO e a CONTINENTAL não esteja bem definida (séc XXI), ela é claramente não analítica, ou seja tem pouca afinidade  com as ciências naturais.
ü  Os filósofos encontram-se menos em departamentos de Filosofia, como no mundo anglo-saxão, e mais em departamentos de Teologia ou Ciência da Religião.

FILÓSOFOS COMO:

ü   SCHLEIERMACHER , KIERKEGAARD tentam resgatar a religião do campo cognitivo;
ü  TROELTSCH e BULTMAN usam a categoria de história [história da salvação] para forjar um pensamento coerente sobre a religião;
ü  Gabriel MARCEL e M. BUBER, através do existencialismo cristão revelam novos pontos de contato entre religião e filosofia;
ü  O TOMISMO em todas as escolas [neoescolástica, transcendental, fenomenológica e existencialista] continuam gerando aprofundamentos filosóficos através do legado de AQUINO, com Kant, Husserl Heidegger e Wittgenstein.


FILOSOFIA COMPARADA DA RELIGIÃO

ü  É uma área mais recente, mas que promete muito crescimento. Ela migrou para as Ciencias Sociais, as humanidades e a História chegando aos departamentos de Ciência da Religião. 

ü  Grande parte da terminologia religiosa carece de exegese filosófica só para que possam articular suas convicções e explicar suas práticas.

ü  A Filosofia na Religião afasta-se do contexto confessional e junta-se as outras filosofias que servem em outras tradições para comparar conceitos lógicos, cosmológicos, psicológicos, metafísicos, éticos e estéticos para construir uma FILOSOFIA COMPARADA DA RELIGIÃO.

FILOSOFIA DA RELIGIÃO NO BRASIL

ü  Encontra-se camuflada, entre Departamentos de Teologia, Ciência da Religião e Filosofia, sendo temido como uma forma criptoteologia.

ü  Tem despertado algum interesse por parte de missionários, de cientistas sociais, especialmente das religiões minoritárias que, juntamente com o Cristianismo criaram uma dinâmica que não pode deixar a religião fora da ementa dos filósofos.

ü  Assim, a influência do positivismo (séc. XIX - XX) e do marxismo na década de 1960, acabaram dando lugar a programas de FILOSOFIA DA RELGIÃO no final do século XX, em algumas pós-graduações do país, tendo sido criada a ABFR que até 2017 organizou sete congressos nacionais.


CONCLUSÃO

O perfil da FILOSOFIA DA RELIGIÃO pode ser esboçado através de dois tópicos:   

Os que dirigem sua reflexão ao objeto de crença e práxis religiosa:
Ø Esses abordam seu objeto apenas como aquilo que a razão humana pode determinar;
Ø Podem levar em consideração dimensões filosóficas das doutrinas além da razão que abrem horizonte não racionais

Ø  Outros debruçam sobre o sujeito da experiência religiosa: 
Ø  Estes podem estudar as condições de possibilidade cognitivas e psicológicas da experiência religiosa e até mística.

Negando à religião a possibilidade de uma reflexão filosófica abrangente é torná-la mais pobre, pois, nenhum outro assunto é capaz de revigorar nos filósofos a dedicação prestada por seus antepassados às GRANDES QUESTÕES. 


quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Coletivo Negrasô convida: III Semana Preta da PUC-SP


"Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista." - Angela Davis.

5 a 9 de novembro no Campus Monte Alegre da PUC-SP

5 de novembro às 19h: Religiosidade Negra
Convidados: Baba Rodney de Oxóssi, Carol Afeekana e Edson Santos
Mediação: Sabrina
Sala: P65 (prédio velho - 3 andar)

6 de novembro às 19h: Intelectualidade Negra
Convidados: Liliane Braga, Amailton Azevedo e Marcos
Mediação: Mayara
Sala: P65 (prédio velho - 3 andar)

7 de novembro às 19h: Abolicionismo Penal
Convidados: Dina Alves e Crick
Mediação: Marilia

Sala: P65 (prédio velho - 3 andar)

8 de novembro às 19h: Conjuntura política e organização para resistência
Convidados: Erica Malunguinho e Mariana Luz
Mediação: Juliana

9 de novembro às 19h: Encerramento artístico (Bosque ou Prainha)

Facebook: https://www.facebook.com/events/306061936650737/

Pró-Reitoria de Cultura e Relações Comunitárias